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Quebrando a banca

Tribunal de Contas do Estado mostra que polo de cinema de Paulínia saiu pelo dobro do preço

Carlos Cecconello/Folhapress
Estudio de animação em Paulínia usado como depósito de entulho da prefeitura
Estudio de animação em Paulínia usado como depósito de entulho da prefeitura

MATHEUS MAGENTA
LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DE SÃO PAULO

Uma auditoria do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP) constatou que a Prefeitura de Paulínia (a 119 km da capital) gastou o dobro do que poderia ter desembolsado para construir seu polo de cinema.

O modelo adotado, de uma parceria público-privada (PPP) com os Estúdios Quanta, prevê a construção e a manutenção de uma estrutura formada por cinco estúdios, escritórios e um museu.

Ao todo, ao longo de dez anos, seriam pagos pela prefeitura R$ 332 milhões. Ao fim do contrato, o patrimônio será revertido ao governo.

Se o poder público tivesse decidido construir e administrar esse projeto, o valor chegaria a R$ 142 milhões, segundo cálculos do próprio TCE.

De acordo com o documento, que ainda está em análise e deve ir a votação em três semanas, fica "improvada a economicidade do contrato".

A prefeitura disse que o tribunal ainda não decidiu sobre o assunto, que há "apenas indicativos da auditoria" e que há um "erro técnico" na avaliação (leia nesta pág.).

Em abril, a Folha publicou reportagem que apontava para o sucateamento do polo de Paulínia, a suspensão do festival de cinema e o abandono da política de financiamento de filmes.

EDITAL AUSENTE

Não há editais de fomento a produções desde 2010 -o prefeito José Pavan Jr. (PSB) promete um novo para este mês, ainda sem revelar valores nem datas.

Por contrato, só a prefeitura pode definir quem utiliza os estúdios. Na prática, só os contemplados pelos editais podem usar a estrutura, já que esses espaços não podem ser alugados.

Dos dez selecionados no último edital, há dois anos, faltavam três produções a serem filmadas na cidade. Duas delas desistiram.

"Trinta", sobre o carnavalesco Joãosinho Trinta (1933-2011), nega que a decisão tenha a ver com a crise no polo. O produtor Matias Mariani, da Primo Filmes, diz que "foi coincidência".

"Conseguimos o dinheiro de um outro investidor no Rio de Janeiro. Não valeria a pena transferir toda a estrutura do filme para Paulínia."

Para a equipe de "O Tempo e o Vento", que adapta a obra homônima de Erico Veríssimo, foi uma precaução.

"Teríamos de investir na construção dos cenários sem ter retorno garantido sobre as datas em que a verba da prefeitura estaria liberada", diz a produtora Rita Buzzar.

O filme será rodado integralmente no Rio Grande do Sul, onde é gravado desde março. "Foi uma questão logística com as locações que tínhamos disponíveis."

Somente a Gullane mantém o cronograma para "Acorda Brasil", sobre uma orquestra jovem na favela de Heliópolis (SP). Vão levar à cidade cem pessoas, entre técnicos e atores.

"Atrasou um pouco para recebermos, mas está totalmente garantido [fazer o filme na cidade]. Acho que a tempestade que estão fazendo é muito maior do que a realidade", diz Caio Gullane. "Acorda Brasil" vai receber R$ 1,1 milhão.

O prefeito anterior de Paulínia, Edson Moura (PMDB), criou o projeto do polo cinematográfico e elegeu Pavan Jr. como seu sucessor.

Mas os dois romperam, e Pavan deixou o cinema em segundo plano para investir em programas sociais.

A suspensão do festival e a substituição de cursos de longa duração por workshops são consequência da nova política.

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