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Peça usa humor negro em história sobre escritor "Pillowman" foge do politicamente correto ao tratar de crimes bizarros com comicidade MARCOS GRINSPUM FERRAZCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA Uma história com assassinatos, infanticídios, prisão e tortura -tudo ocorrido sob um regime totalitário- parece ser puramente trágica. Afinal de contas, com esses assuntos não se brinca. Mas não é bem assim em "The Pillowman - O Homem Travesseiro", peça do britânico Martin MacDonagh que ganha montagem brasileira sob direção de Bruno Guida e Dagoberto Feliz. Nela, a peculiaridade e a anormalidade dos acontecimentos é tal que o enredo se torna também cômico. De um humor negro, é claro. "Eu detesto o politicamente correto", diz Guida, 32, de saída. "Não me interessa se a obra é moral ou imoral, mas se é boa ou ruim, bem escrita ou mal escrita. Se for uma obra de arte que tem poesia, que tem um sentido, tudo se justifica", continua o diretor. "Pillowman" conta a história de um escritor, Katurian, e de seu irmão, Michal, presos pelo tal regime e submetidos a interrogatórios e tortura pela suspeita de terem assassinado crianças. Coincidentemente ou não, as mortes ocorreram de maneira igual à descrita nos contos -um tanto grotescos, mas criativos- que Katurian escreveu ao longo da vida. Uma dessas histórias é "O Homem-Travesseiro", que dá título à peça e que se relaciona com todo o enredo. Na montagem, com certo tom surrealista, os personagens ganham deformidades físicas, que os colocam à margem da sociedade. O recurso remete à figura do bufão. "Resolvemos usar essa linguagem com a ideia de que quem vem de 'fora da sociedade', como o bufão, tem a permissão para chegar e falar o que quiser", diz Guida. Sem entregar todas as reviravoltas que se desenvolvem na trama -relacionadas à infância conturbada dos irmãos e à morte de seus pais-, pode-se dizer, ao menos, que a peça deixa no ar algumas perguntas inevitáveis. "Será que o único dever do contador de histórias é contar histórias, sem pensar nas consequências que elas podem ter na vida real? E se houver más consequências, a culpa é só de quem leu e interpretou aquilo de determinada maneira ou é também do autor?", questiona Guida.
THE PILLOWMAN - O HOMEM-TRAVESSEIRO |
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