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Crítica Ficção Científica

Diretor deixa problemas atuais sabotarem sua visão do futuro

RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA

Gênero criado para vislumbrar o futuro, a ficção científica tornou-se uma ferramenta preciosa para decifrar o presente, para entender o estado das coisas -e do próprio cinema- no momento em que os filmes são realizados.

"O Dia em que a Terra Parou" (1951), de Robert Wise, por exemplo, servia de metáfora para a Guerra Fria e de modelo para um cinema que, desprovido de dinheiro e tecnologia, recorria à imaginação para ilustrar o futuro.

Para citar exemplo mais recente, "Avatar" (2009), de James Cameron, falava tanto sobre o temor causado pela destruição do meio ambiente quanto sobre a tentativa de resgate do 3D como salvação comercial do cinema.

Em "Prometheus", Ridley Scott cria um futuro obscuro, em que cientificismo e esoterismo, corporativismo e militarismo se confundem -exatamente como nosso tempo.

Já o recado sobre o cinema do presente é cristalino: vivemos uma época em que a ambição é tolhida pelas convenções e pelas reciclagens, utilizadas para fisgar o espectador pela familiaridade e pagar as contas astronômicas.

A convenção se manifesta, por exemplo, no caráter variado da tripulação: há o negro, o japonês, a loira, o nerd etc. -confirmando que a ficção científica, da mesma forma como o "Big Brother", conseguiu implementar uma política de cotas antes do governo brasileiro.

A reciclagem, ao menos, é caseira. Scott reaproveita elementos de seus clássicos anteriores. Há um robô humanizado que remete ao replicante de "Blade Runner" (1982) e alienígenas que se infiltram no corpo de humanos à moda de "Alien" (1979).

Por fim, o longa sofre com o excesso de personagens, de subtramas, de conceitos científicos e religiosos -chegando a um resultado que é sempre mais complicado do que complexo.

Se no começo de "Prometheus" Scott parece estar a um passo da grandeza de filmes anteriores, ao final namora perigosamente o ridículo, deixando que os problemas do cinema do presente sabotem sua visão do futuro.

PROMETHEUS

DIREÇÃO Ridley Scott
PRODUÇÃO EUA, 2012
ONDE Center Norte Cinemark,
CINE TAM e circuito
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO regular

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