Crítica Drama

'A Primeira Coisa Bela' quer reencontrar tradição do grande cinema italiano

Existe um aspecto saudável em "A Primeira Coisa Bela", que consiste em buscar reencontrar a tradição do grande cinema italiano.

E ela de fato reaparece, ainda que um tanto esgarçada. Lá está Stefania Sandrelli, elo mais marcante ainda em atividade entre aquele bom momento e o presente. Lá estará também, ainda que de passagem, a figura tutelar de Dino Risi (1916-2008), mestre da comédia e do melodrama.

Eles trazem alma à história conturbada da família Michelucci, que seguimos desde 1971, quando Anna ganha um fortuito concurso de beleza (a mãe mais bela do balneário), até sua morte, em 2009.

A essa história não faltarão alternativas: a expulsão de Anna da casa por Mario, marido atrabiliário e pai de seus dois filhos, Bruno e Valeria.

Os caminhos do filme estarão determinados por esses personagens: a extrovertida e vitalíssima Anna luta alternando força e humor para criar os filhos.

Estes, em particular Bruno, sofrerão, no entanto, com a personalidade materna e as circunstâncias da infância, que vão se traduzir na idade adulta por uma melancolia intransponível. A insegurança será a marca da irmã.

O filme alterna três momentos: 1971, 1981 e 2009. No entanto, os problemas dessa construção vão se refletir com clareza nos personagens, que ao longo das épocas só mudam, basicamente, de cara.

A vítima mais evidente é o sorumbático Bruno, sempre disposto a impor sua depressão às diferentes situações.

O interesse do filme vem da simpatia que transmite. E quem a encarna é Anna. Sobretudo quando, na pele da Sandrelli, vende vitalidade, mesmo em estado terminal.

Talvez seja uma metáfora da Itália cheia de vitalidade de 1970, contraposta a esse segmento da "eurolândia" que, como Bruno, busca inutilmente sentido para a vida.