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Crítica contos

Joyce ganha novas ótimas traduções

'Dublinenses' tem versão amadurecida; 'Stephen Herói' é campo de descobertas sobre o autor

MARCELO TÁPIA
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Stephen Herói" chega ao país em 1º de julho (hoje em prévia) por iniciativa do tradutor José Roberto O'Shea, que acaba de publicar, também, nova versão da primeira obra em prosa de James Joyce, "Dublinenses" (1914), 20 anos depois de lançada sua primeira tradução dela.

Mesmo quando pode ser lida e apreciada sem dificuldades (caso desses dois livros), uma obra de Joyce encerra alta complexidade nas tramas de sentido que propicia.

Justificam-se, portanto, a dedicação e a persistência do tradutor dos contos de "Dublinenses" -verdadeiros ensaios sobre a "paralisia" e o medo de romper rotinas-, cujo trabalho se mostra, agora, compromissado com o objetivo de corresponder mais fortemente a características sintáticas e estilísticas do original, aproximando-se de uma "literalidade da forma".

O cotejo da antiga com a nova tradução permite levantar questões cruciais sobre a tarefa do tradutor, dificílima em obras de natureza estética e com vários níveis de significação: a simples troca do título do conto "Counterparts", de "Cópias" para "Duplicatas", permite entrever a busca pela melhor opção, que, contudo, revelará limitações talvez intransponíveis.

Mas, diante desta versão do belo livro de Joyce, fica a impressão de que dele temos, em nossa língua, uma recriação amadurecida: por seu intermédio será possível reviver a atmosfera daquela Dublin cheia de símbolos e convenções, dos quais era tão difícil se libertar.

Se "Dublinenses" é o livro pelo qual se sugere iniciar a leitura de Joyce, devido à crescente complexidade de suas criações, espera-se que em seguida seja lido o "Retrato do Artista Quando Jovem".

Este romance, porém, surgiu do abandonado "Stephen Herói", desenvolvido em moldes mais tradicionais, a partir de conto autobiográfico.

Das estimadas mil páginas, manuscritas por Joyce, restaram cerca de 400, publicadas em 1944 (três anos após a morte do escritor), que, no entanto, apresentam relativa unidade: compõem um "retrato" de Stephen Dedalus num contexto estilístico de realismo mais social e menos psicológico que o do livro que viria a originar.

O fragmento é um campo de descobertas pela riqueza de detalhes relativos a Stephen e seu ambiente e, também, à teoria estética proposta pelo personagem e sua concepção de "epifania" ("súbita manifestação espiritual, na vulgaridade de uma fala ou de um gesto"), tão cara a Joyce.

O texto original encontra correspondência depurada na criteriosa tradução de O'Shea, que busca aprofundamento no diálogo estético com a obra joyciana: "Stephen não se apegava à arte com qualquer espírito de diletantismo jovial mas buscava penetrar o coração significativo de tudo. Mergulhava no passado da humanidade e vislumbrava a arte emergente como quem tem a visão de um plesiossauro emergindo de um mar de lodo".

Descubra-se Stephen, o Herói, em português.

MARCELO TÁPIA é poeta e coorganizador do Bloomsday em São Paulo.

DUBLINENSES
AUTOR James Joyce
EDITORA Hedra
TRADUÇÃO José Roberto O'Shea
QUANTO R$ 38 (208 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo

STEPHEN HERÓI
QUANTO R$ 38 (214 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo

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