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"No futuro, a música vai ser mais um serviço do que um produto"

Para Marisa Monte, o download e o armazenamento de música estão com os dias contados

Com parceiros de duas décadas, ela diz que pensa o palco sempre como um diálogo entre a música e outras artes

DE SÃO PAULO

Esguia e com a discreta vaidade denunciada pelo batom vermelho e as unhas muito bem feitas -"num salãozinho de bairro da Gávea"-, Marisa falou à Folha dois dias antes de começar a sequência de shows que vendeu quase 50 mil ingressos antecipados em São Paulo. (AFS E RL)

Folha - Como é sua vida fora dos palcos?
Marisa Monte - Para o público, se você sumiu do palco, não está fazendo nada. Mas eu lancei dois discos, fiz uma turnê de dois anos, um documentário sobre essa turnê e me envolvi na produção do filme "Mistério do Samba". Depois, tive uma filha, que é uma produção. Entre uma coisa e outra, já estava compondo e produzindo para [o CD] "O que Você Quer Saber de Verdade".

No seu penúltimo lançamento, a EMI usou um dispositivo que não permitia a reprodução do disco...
Não tive nada a ver com isso, era uma política internacional da gravadora [EMI]. Como o meu foi o primeiro grande lançamento, chamou a atenção. Mas era uma política inútil. Havia milhares de receitas na internet explicando o passo a passo de como baixar. Só gerou antipatia.

Então você é a favor do download ilegal?
Tudo tem os dois lados. As pessoas copiam, não pagam, mas faço show na China e todo mundo conhece minhas músicas. A internet te dá um acesso para o mundo todo que é muito libertador.

Como vai se resolver essa equação entre a indústria da música e os novos modos de consumir e produzir música?
Quando comecei, há 20 e poucos anos, você precisava de uma pessoa que financiasse. Hoje, não precisa mais de uma empresa nem para gravar, nem para lançar. Acho isso revolucionário. Consumir música vai ser muito mais um serviço do que um produto. No futuro, as pessoas vão assinar serviços de streaming. É um momento de transformação e experimentação que é ótimo. Como é em toda crise.

Desde "Cor de Rosa e Carvão", revelou-se em seus trabalhos uma garimpagem de referências e canções. Como você faz essa pesquisa?
Tenho muitas coleções de LP, tipo "Collectors". Nos intervalos da minha primeira amamentação, ia sempre ao Instituto Moreira Sales e ficava ali sozinha, ouvindo músicas desde 1900 até a pré-bossa nova.
O que me criou foi a coleção Abril, que era vendida em bancas do jornal. Por que você acha eu cantava "Ensaboa" aos 18 anos?

Você leva as crianças às turnês? O que costuma cantar para ninar seus filhos?
Eles não podem perder a escola. Talvez eu os traga para São Paulo, tenho amigos aqui. Gosto de mostrar canções singelas, como [canta] "eu vivo a vida cantando, hi Lili, hi Lili, hi lo".

Você é vaidosa?
Acho que a mulher não precisa ser bonita, precisa ser bem cuidada. Faço as coisas normais: ginástica, faço a unha. Nunca mexi em nada. To aceitando também, porque acho digno, acho bonito envelhecer.

Você declarou voto e já participou de campanhas contra a violência. Você é engajada?
Falo em quem eu votei, mas não em quem eu vou votar. Hoje [noite da última terça], particularmente, é um dia triste, porque teve esta história do Lula aceitando o apoio do [Paulo] Maluf, a Erundina desistindo de ser candidata a vice.
Acho que vivemos um momento ético bem complicado. A gente tinha uma ilusão de que tinha uma alternância no poder, de que a esquerda iria entrar, seria mais honesta. Mas, no que você entra, as forças viciantes são tão fortes que todo mundo sucumbe. Não quero ser de esquerda nem de direita, quero ser honesta.

Você acompanha a nova geração da MPB?
Gosto do Cícero [cantor carioca], acho legal porque é autor. Vi um show do Emicida, que é uma graça, assisti ao Criolo também. O disco da Mallu [Magalhães], "Pitanga", é lindo. A Tulipa tem um trabalho bonito. A Céu eu adoro, tem coisas lindas. Vi a Gaby Amarantos, é uma pessoa exuberante, autêntica.

Você é uma referência para cantoras brasileiras desde que surgiu. Você se enxerga nelas?
Eu me enxergo mais nas minhas referências. É difícil dizer que você é referência para alguém. Cada uma têm suas nuances.
Há um descompasso evidente entre a expectativa da crítica e a do público algumas vezes...
Quando escuto um disco pela primeira vez, é muito difícil eu gostar. E a crítica é feita de um dia para o outro. Sei como as coisas funcionam.

Leia a íntegra da entrevista
folha.com/no1107577

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