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Veneza terá Lucio Costa e nova geração de arquitetos

Pavilhão do país na Bienal destaca urbanista e Marcio Kogan, de SP

Num contraste entre momentos históricos, obra inédita de Kogan será exibida junto com peça de Costa de 1964

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Em 1964, ano do golpe militar, Lucio Costa levou à Trienal de Milão uma instalação com redes suspensas de uma estrutura metálica. Na parede, a ordem: "Repousem".

Também estava lá, nas palavras do urbanista de Brasília, a afirmação de que o mesmo povo que passa seu tempo deitado na rede é capaz de construir uma nova capital num prazo de três anos.

Agora, a instalação de Costa será remontada no pavilhão brasileiro da Bienal de Arquitetura de Veneza, marcada para agosto. Junto dela, estará uma obra inédita do arquiteto paulistano Marcio Kogan, em que filma uma casa que fez em São Paulo e exibe as imagens por entre frestas num bloco de concreto.

Costa, morto em 1998 aos 96 anos, e Kogan, nome que vem se destacando na atual leva de arquitetos paulistanos, compõem essa ponte entre gerações que forma a representação oficial do Brasil nesta que será a 13ª edição da tradicional mostra italiana.

"Eles têm uma linguagem muito internacional e ao mesmo tempo citam a tradição vernacular brasileira", diz à Folha Lauro Cavalcanti, curador do pavilhão nacional. "Nas obras de Kogan, são explícitas as alusões à arquitetura praiana, colonial, isso tudo mesclado à arquitetura contemporânea, que é o que propõe também Lucio Costa."

Mais do que uma afinidade ideológica, de aproximar tradição local e vanguarda, o aspecto formal das obras que marcam a geração de Kogan também reverencia as linhas ortogonais e o concreto aparente, vocabulário básico do modernismo nacional.

Nesse ponto, as arquiteturas de Costa e Kogan parecem se encontrar no tal "terreno comum" proposto pela curadoria geral da próxima Bienal, dirigida pelo arquiteto britânico David Chipperfield.

"Nossa produção arquitetônica passou por uma crise seriíssima no pós-Brasília até os anos 90", diz Cavalcanti. "Mas agora temos uma arquitetura de muita qualidade, embora em pequena escala."

Cavalcanti também enxerga no eco formal entre o modernismo e obras contemporâneas uma "atitude pós-moderna" da nova geração.

É um ponto crítico de sua curadoria, que justapõe dois momentos históricos frente a frente, eliminando a distância do tempo e tornando evidente a influência do período heroico da arquitetura nacional sobre as construções que acabam de sair do papel.

"Não há nada de preguiçoso nessa nova geração. O modernismo é um momento histórico que eles escolheram citar", opina Cavalcanti. "Esse movimento ainda existe enquanto ética e estética, mas agora sem ilusões de transformar o mundo. Era uma ilusão muito bonita, mas que acabou se provando falsa."

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