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Crítica Comédia Cheio de pudor, filme de Felipe Joffily mais parece um coito interrompido CÁSSIO STARLING CARLOSCRÍTICO DA FOLHA NO FILME, A SAFADEZA NUNCA ACONTECE NA PRÁTICA, SÓ NO TEXTO Sabe aquele colega chato da adolescência obcecado por sexo? Agora imagine que ele pede para ser seu amigo no "Face", você deixa e logo descobre que depois de 20 anos ele ficou 20 vezes mais chato. Este é o perfil da turma de "E Aí... Comeu?". Que sexo vende, todo mundo sabe e quase todo mundo consome. Só que erotismo requer tempero e desinibição. Não dá para fazer cena de casal transando de roupa. Se fosse possível comparar "E Aí... Comeu?" com as modalidades sexuais, o filme seria como um coito interrompido. Todo mundo se esforça e ninguém goza. E no encontro com os amigos no dia seguinte os desempenhos de nenhum deles fica abaixo da categoria garanhão. Dá saudade da sem-vergonhice do cinema brasileiro da pornochanchada, capaz de mostrar os peitos e bundas que todo homem queria ver e ainda revelar, a despeito da grosseria das situações, o necessário combate entre machismo e feminismo. No modelo da "globochanchada" de "E Aí... Comeu?" prevalece o pudor. A safadeza nunca acontece na prática, só no texto. Desde a primeira cena, Honório, o personagem de Marcos Palmeira, dirigindo-se aparentemente à plateia, explicita que nessa comédia os homens só praticam sexo oral. O trio masculino que se reúne toda noite num bar fala, fala, fala do próprio falo. Ao contrário deles, o garçom interpretado com picardia por Seu Jorge é o único capaz de salvar a pátria. Quando se aproximam das parceiras, o máximo que eles fazem é se encolher e pedir carinho, atenção, atitudes que antes apenas as mulheres tinham o direito de exigir. Fernando, Honório e Fonsinho parecem, de fato, a versão homem de Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda, o quarteto pós-feminista de "Sex and the City". Seria possível imaginar o trio como representação do homem pós-machista, fragilizado pela autonomia das mulheres e, e, sobretudo, dependente delas. A peça de Marcelo Rubens Paiva que deu origem ao roteiro (que ele coassina) pode até ter capturado, em 1998, as inversões que se seguiram ao crepúsculo do macho. Em 2012, filmado de modo a querer entreter do tiozão safado ao pré-adolescente masturbador, "E Aí... Comeu?" pode deixar uma fila de espectadores na mão. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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