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Crítica romance

Britânica se mostra artificial ao imaginar fuga de Lady Di

APARENTE FÁBULA SOBRE CELEBRIDADES SE ARRASTA PELAS FÓRMULAS DE UM REALISMO RASTAQUERA

ALCINO LEITE NETO
ARTICULISTA DA FOLHA

A fim de fugir da pressão social e da mídia, que infernizam a sua vida, Lady Di resolve simular sua morte, trocar de identidade e levar uma existência comum em algum lugar perdido no mapa.

É este o enredo fantasioso de "A História Não Contada", da britânica de origem bengali Monica Ali, publicado na Inglaterra em 2011 -14 anos após a morte da princesa, num acidente de carro- e agora lançado no Brasil.

Com a ajuda de um secretário, Diana resolve desaparecer durante uma viagem de iate no litoral de Pernambuco, como se tivesse afogado na costa brasileira.

Passa uma noite escondida num motel em Recife e, em seguida, vai de carro até Belo Horizonte, onde faz sua primeira plástica -nos lábios.

De cabelos e lentes castanhos, parte para o Rio, opera o famoso nariz e embarca para os Estados Unidos com seu novo nome: Lydia.

Na minúscula Kensington, trabalha num canil e vive sem atribulações, até o dia em que chega à cidade um jornalista de celebridades.

De tanto perseguir a princesa no passado, o repórter reconhece nos traços de Lydia a Lady Di de outrora.

"Algumas histórias estão destinadas a nunca serem contadas. Algumas só podem ser contadas como contos de fadas." Assim Monica Ali começa seu livro.

O leitor, portanto, ao iniciar o romance, dá um crédito à autora, supondo que a trama mirabolante seja apenas o pretexto para uma curiosa fábula sobre o nosso tempo e seu delirante apego às celebridades.

Monica Ali, porém, não cumpre sua promessa. Abandona logo a fabulação, com toda a liberdade que esta lhe permitiria, e se arrasta pelas fórmulas de um realismo rastaquera, de infeliz recorte psicológico e com aspectos de thriller bem comercial.

Troca o "conto de fadas" pelo efeito de verdade, enveredando-se num labirinto de argumentos e explicações, como se o leitor precisasse ser convencido da plausibilidade de cada coisa nesta narrativa inverossímil.

O esforço acaba ressaltando a artificialidade do projeto de Ali, que melhor faria se tivesse se concentrado tão somente no elemento mais interessante e substancial do romance: imaginar como a mulher mais célebre de seu tempo viveria uma existência banal e anônima.

A HISTÓRIA NÃO CONTADA
AUTORA Monica Ali
TRADUTORA Ana Deiró
EDITORA Rocco
QUANTO R$ 39,50 (272 págs.)
AVALIAÇÃO regular

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