Crítica Comédia

Woody Allen oscila entre o sabor e a falta de inspiração

Na sétima produção realizada longe de casa, em cidades europeias, Woody Allen fez um filme que tem mais a ver com lazer do que com trabalho. Desde o título e o cartaz, "Para Roma com Amor" viaja até a cidade eterna com a mesma disposição de quando fazemos turismo.

Compartilhamos ansiedades no voo, contemplamos os monumentos e a luz local, perambulamos pela magnitude das praças e o charme das ruelas e, em casa, quase nada fica retido nas fotos.

O filme se organiza em torno de quatro histórias que acontecem por acasos e coincidências, confusões e incompreensões. Americanos e italianos se amam ou se desentendem, ou americanos visitam a Itália e descobrem um pouco de si próprios.

O roteiro também assinado por Allen prefere passar pelas situações com ligeireza, passear entre elas em vez de se deter e apreciar.

Por isso o filme se torna semelhante às produções em episódios de que o cinema italiano foi pródigo, mas cujo resultado quase sempre é irregular.

De modo equivalente, "Para Roma com Amor" oscila entre o saboroso e o desinspirado. A situação do casal tentado pelo adultério, em que Woody Allen revisita o Fellini de "Abismo de um Sonho" e resgata Ornella Muti do esquecimento, pertence ao primeiro grupo.

Já o impasse amoroso vivido pelos personagens de Jesse Eisenberg e Ellen Page poderia muito bem ter ficado na lixeira da sala de edição. Enquanto a história vivida por Roberto Benigni, a mais promissora e irônica, fica com aparência de rascunho.

Por sua vez, o retorno de Allen como ator também parece preguiçoso. Se, num primeiro momento, seu papel de pai da noiva provoca risadas, ao se repetir e esticar, a melhor piada perde a graça.

No entanto, em comparação com o festival de besteiras que toda semana estreia no país, este reencontro anual com Allen pode não ser inesquecível, mas não se confunde com vexame.