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Crítica romance e ensaios Autor faz defesa de ideário progressista Seja na ficção ('Tremor') ou não ('Como Ficar Sozinho'), Jonathan Franzen dá voz a traumas sociais NELSON DE OLIVEIRAESPECIAL PARA A FOLHA Em sua obra, Jonathan Franzen passa da ficção para a não ficção sem qualquer solavanco ou atrito. A diferença entre seus romances e seus artigos e ensaios é apenas normativa, de gênero. Os romances têm personagens e diálogos, os artigos e ensaios, não. Salvo isso, cumprem a mesma função: a defesa cuidadosa de uma ideia. Na verdade, de um ideário liberal-progressista completo. Isso fica bastante evidente na coletânea de artigos e ensaios "Como Ficar Sozinho" e no romance "Tremor", lançados simultaneamente. Na ficção e na não ficção, a mesma voz literária denuncia o tecnoconsumismo, o tabagismo, a invasão de privacidade, a degradação ambiental e outros tantos vícios contemporâneos. Não importa se na boca do próprio autor ou de seus personagens, a argumentação conserva o mesmo timbre e a mesma intensidade. A coletânea "Como Ficar Sozinho" reúne os melhores textos dos livros "How to Be Alone" (2002) e "Farther Away" (2012). Vários deles apareceram antes na revista "The New Yorker". Franzen gostaria de cultivar mais a solidão. Não há nada melhor para um escritor do que toneladas de sossego. O contrassenso é que ele mora na povoadíssima Manhattan. Parte do prazer de ler esse adolescente de 52 anos vem da maneira saborosa como ele reflete sobre sua pequena coleção de desejos, crenças e despropósitos. Franzen jamais é profundo. A complexa superfície das coisas é seu território. Suas rabugices não ferem, divertem. Quando reclama da invenção do celular e da banalização do "eu te amo", é sagaz e engraçado. Quando entrevista presos de um complexo correcional, é um pouco inocente, quase cor-de-rosa. Seu necrológio para o próprio pai, vítima do mal de Alzheimer, é sublime. Sua não resenha de uma coletânea de contos da canadense Alice Munro é brilhante. MILITÂNCIA No romance "Tremor", de 1992, encontramos a mesma fala inteligente e bem humorada agora na boca dos protagonistas, Louis Holland e Renée Seitchek, e dos diversos coadjuvantes. O ponto de partida dos romances de Franzen é a família. Do vasto rol de traumas que o mundo tem a oferecer, a crise familiar é a primeira. Na família Holland a crise se acentua quando a mãe, Melanie, está prestes a herdar US$ 22 milhões. Louis é um idealista preocupado menos com o dinheiro e mais com o destino do planeta. Sua companheira, Renée, é uma sismóloga militante a favor do aborto e de outras causas controversas. O mistério ecológico que circunda o drama íntimo dos personagens é no mínimo inusitado: uma grande indústria química pode estar gerando abalos sísmicos na costa dos Estados Unidos. É o capitalismo provocando, agora, terremotos. A matéria-prima da obra de Franzen são as experiências traumáticas da sociedade americana contemporânea. Incluir os traumas geológicos nessa lista de experiências se mostra uma sacada de mestre. NELSON DE OLIVEIRA é doutor em letras pela USP e autor de "Poeira: Demônios e Maldições" (Língua Geral)
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