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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

Daigo Oliva/Folhapress
A atriz Isis Valverde em um hotel de SP
A atriz Isis Valverde em um hotel de SP

PERIGUETINHA DO BRASIL

Sucesso em 'Avenida Brasil', Isis Valverde está reservada para nova minissérie e diz que sua beleza não é 'do tipo para ganhar uma protagonista'

A mineirice de Isis Valverde aparece em uma conversa de diferentes maneiras. Seja devorando uma cesta de pãezinhos de queijo quentinhos antes do jantar, puxando o erre em "por favor" ou contando alguns dos muitos "causos" de sua infância. Como o do dia em que ela, então com cinco anos, foi a uma loja com a mãe e rabiscou várias calças jeans com canetinha.

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Mas, para a atriz de 25 anos nascida em Belo Horizonte e criada em Aiuruoca, cidade de 6.000 habitantes no sul de Minas, o que ela tem de mais mineira é "o esgueirar". "O saber ir pelas bordas. Como diz meu empresário, o comer o boi aos bifes e não inteiro de uma vez", afirma à repórter Lígia Mesquita.

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Suelen, a periguete que interpreta na novela "Avenida Brasil" (Globo), com seu jeito despachado e frases como "O corpo é meu e a pista é nossa", é seu maior sucesso de público em sete anos de carreira. E já lhe garantiu o convite para uma futura minissérie da emissora.

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Ela diz que o assédio passa despercebido. "Me preocupo se o meu trabalho está sendo bem feito. Não conto quem vem falar comigo como cabeça de gado. Pode parecer hipocrisia, mas não comparo. Acho um pouco de descaso com os outros personagens." Ela, que estreou na TV no remake de "Sinhá Moça" (2005), também fez "Beleza Pura", "Caminho das Índias" e "TiTiTi".

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No horário nobre, Suelen vive de barriga fora, sai com vários homens e quer se dar bem. O que na vida real seria motivo para condenação, no folhetim agrada ao público. "Acho que o sucesso é uma junção de fatores. Tem uma atriz que se identificou, uma produção boa e o texto maravilhoso do João Emanuel Carneiro. Ele faz com que a dona de casa que vê a novela dê risada de chorar com aquela periguete que tem um físico que toda mulher criticaria."

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O fato de estar com o corpo à mostra na trama, diz, não fez com que temesse ser reconhecida apenas como "sex symbol". "A Suelen é. A Isis, não. Se eu fosse uma atriz que se vestisse parecida com ela, tivesse a índole ou a libido dela, ficaria receosa."

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O pudor que poderia surgir com as cenas de lingerie e sexo foi "muito trabalhado". "É técnica. O corpo da gente é burro. Até ele sentir que você tá com medo, já se passaram cinco minutos, um mês", diz. "Se você tem a técnica, meu amor", usa a expressão que sua personagem fala a todo momento, "e a inspiração faltar, você não tá na rua. Eu me calço de todos os lados".

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E garante que não fica insegura com a exposição. "No momento em que atua, você não é mais a mulher que é fora da cena. Por isso tenho as máscaras do teatro tatuadas na costela. O que passa pela minha cabeça e pesa é o grátis, o mostrar o seio à toa, algum diretor falar: 'Tem uma cena que do banheiro pro quarto você vai de sutiã'. Não vou fazer."

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As gravações de "Avenida Brasil", conta, têm tomado seis dias por semana de sua vida. No sábado passado, ela não trabalhou e viajou do Rio para São Paulo para alguns compromissos. E jantou no hotel Emiliano.

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Isis chama o garçom. "Queria um vinho tinto. Tem um africano, se não me engano, que é a mistura de duas uvas", diz. O sommelier pergunta se é a uva pinotage. "Isso!" Dispensa os pães do couvert - "Sou alérgica a glúten"-, mas pede pão de queijo e salada de codorna de entrada. E atum com legumes como principal. O vinho chega. Prova. "Delícia! Pode colocar em um decantador?" E explica o gosto por vinho: "Minha família é italiana".

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Filha de uma atriz que virou advogada e de um bioquímico, conta que cresceu no teatro. Aos 17 se mudou para o Rio e foi estudar no Tablado. Fez testes na Globo e foi aprovada para viver Ana do Véu, de "Sinhá Moça".

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O empresário Márcio Damasceno interrompe. Diz que Isis amadureceu desde a estreia na TV, aos 18. "Era filha única, mimada, cheia de gostos e passou a escutar mais, a confiar no seu trabalho."

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Damasceno tenta interferir. Dá palpites nas fotos, pede que não se mostre muito os joelhos que aparecem na fenda do macacão que ela usa, pede para ver os cliques, pede que fotos sejam apagadas. Sensual, só na novela.

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Isis afirma que sua beleza, mesmo que "ajude", não é "do tipo para ganhar uma protagonista. Nunca me achei indescritivelmente linda. Me acho apresentável, com traços bacanas. Mas mulher linda é a Ana Paula Arósio".

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Posar nua, no momento, está fora de cogitação. "Há sete anos falo não. Não acho que vai me acrescentar algo, me agregar, mudar a vida."

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A atriz não termina o prato. Se desculpa com o garçom. "Já tava satisfeita." E pula a sobremesa.

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Nos dias de folga, conta que gosta de ficar com o namorado, o produtor e músico Tom Rezende, e seus três cachorros: Shiva, Vitória e Abáa. "E faço aulas particulares de psicologia e filosofia. São duas matérias que modificaram o meu modo de pensar, de encarar alguns buracos que a vida da gente tem, de encarar o outro. O mais difícil na nossa vida é o outro. Porque com a gente é fácil resolver." Não faz terapia. "Eu leio o Gikovate [Flávio, psiquiatra] e fico ótima!"

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Se na novela Suelen tem opinião para tudo, na vida real Isis prefere não falar de alguns temas. Acha "chato", por exemplo, citar quais são seus atores preferidos ou com qual diretor ou autor quer trabalhar. "Tem tanta gente. Não dá pra falar."

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Evita opinar sobre temas polêmicos, como aborto. "Vivemos numa sociedade hipócrita. Muitas vezes quem é conhecido tem que guardar a opinião pra si", afirma. "As portas aqui não se abriram. A própria mídia muitas vezes não fica do teu lado. Ela te joga para os cães."

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E se esgueira de novo. "Não é medo. Não é que fico em cima do muro porque não te respondi. Só tô me protegendo. Sei onde tô pisando."

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