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O júri da cultura

Proposta de reforma da Lei Rouanet dá poder a comissão para decidir quem captará via renúncia fiscal

MATHEUS MAGENTA
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
DE SÃO PAULO

Os projetos culturais com "viabilidade comercial" podem ser impedidos de captar recursos via renúncia fiscal por meio da Lei Rouanet, principal mecanismo de fomento à cultura do país.

Segundo a proposta de reforma da lei (nomeada Procultura e atualmente em trâmite na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara) uma comissão ligada ao Ministério da Cultura (MinC) dirá quais projetos prescindem de recursos incentivados e devem buscar dinheiro em fundos de investimento (os chamados Ficart).

Na prática, projetos culturais como o do Cirque du Soleil, que causou polêmica em 2006 ao receber autorização do MinC para captar R$ 9,4 milhões via renúncia fiscal, não teriam mais acesso a esse mecanismo porque teriam "viabilidade comercial".

A Folha ouviu produtores culturais, advogados, especialistas em captação de recursos e integrantes do governo federal sobre a proposta.

"O Cirque du Soleil é um caso extremo, mas e os intermediários? O senso comum, que é uma coisa perigosa, diz que qualquer ator global tem viabilidade comercial. Mas não é verdade, o teatro é altamente deficitário", diz Paulo Pélico, vice-presidente da Associação dos Produtores de Teatro Independentes.

Para o produtor Luiz Carlos Barreto, do recordista de público "Dona Flor e seus Dois Maridos" (1976) e do fracasso de bilheteria "Lula - O Filho do Brasil" (2009), a proposta é uma "regressão" que só criaria "instabilidade e incerteza" no setor cultural.

"O que terá retorno comercial? Eu não sei. Muitas vezes você faz um produto artístico-cultural achando que será um sucesso e não é. Ninguém sabe a fórmula do sucesso em nada", afirmou.

Henilton Menezes, secretário de Fomento e Incentivo à Cultura, do MinC, defende a proposta. Segundo ele, os critérios para avaliar a "viabilidade comercial" devem ser definidos posteriormente, na regulamentação.

"Hoje, os projetos só têm a opção de captar recursos [pelo caminho do chamado mecenato] porque o Ficart não tem incentivo fiscal. Com a proposta, terá 50% [na aquisição de cotas]. Daí não seria só dinheiro público a fundo perdido, mas financiamento de atividades rentáveis com dinheiro privado também."

Para o deputado federal Pedro Eugênio (PT-PE), autor da proposta, não haverá dificuldades para obter recursos via Ficart, pois "existem projetos lucrativos".

Sobre a Cnic, encarregada de decidir o destino dos projetos, o secretário Menezes entende que a comissão é o melhor caminho. "Quem de fato pode dizer se a [Maria] Bethânia precisa ou não do incentivo?" -pergunta.

E responde: "A Cnic, que passaria de consultiva a deliberativa, é o 'locus' mais isento, pois terá representantes da sociedade civil e não ficará à mercê de mudanças de governo."

Outra novidade em estudo é a possibilidade de doar, com incentivo fiscal, para fundos de instituições culturais ("endowments"). Seria uma maneira, por exemplo, de reforçar a Fundação Bienal. "Ideias que facilitem a criação de fundos sustentáveis merecem apoio", diz Heitor Martins, presidente da Bienal.

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