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Crítica Drama

'Até a Eternidade' faz público de vítima de habilidosa chantagem emocional

Guillaume Canet não entra em cena, mas reúne elenco de matar de inveja, como os oscarizados Jean Dujardin e Marion Cotillard

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Encontrar experiências comuns, identificar-se com a expressão de angústias e vivências e compartilhar momentos dramáticos e cômicos foi, de certo modo, uma reserva especial do cinema até os anos 1980.

"Friends", "Barrados no Baile" e muito do que veio depois demonstraram que a evolução da televisão havia tomado o lugar dessa função afetiva da ficção geracional até então gozada em filmes como "O Reencontro" (1983) e "O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas" (1985).

Saudoso desse passado e consciente do presente, "Até a Eternidade" imagina ser capaz de congregar tantas emoções juntando os meus, os seus e os pedaços de todos nós numa história polifônica.

Em alguns momentos, até dá certo. No entanto, ao fim de mais de duas horas e meia rindo um pouco e chorando muito, terminamos nos sentindo vítimas de uma habilidosa chantagem emocional.

O belo ator Guillaume Canet não entra em cena, contentando-se apenas em cuidar do roteiro e da direção. Nem precisou. Juntou um elenco de matar de inveja.

Jean Dujardin, antes de ganhar o Oscar, mas já prestigiado, faz o amigo pelo qual sentiremos tantas emoções.

Em torno dele, a também oscarizada Marion Cotillard compartilha espaço com atores de primeira, como François Cluzet e Benoît Magimel, e nomes menos conhecidos e não menos intensos.

O mote da perda, o reencontro anual de uma velha turma e as crises que tudo isso desperta são registrados com vivacidade pela direção de Canet, capaz de não desperdiçar nem um milissegundo dos números fortes ou histriônicos do elenco.

As paisagens luminosas de Cap-Ferret, o clima de intimidade sempre regado a vinho (ah, a França!), o ritmo calculado de crises e relaxamentos fortalecem a empatia e levam o público a sentir um misto de imersão e cumplicidade, de compartilhar o ordinário que cada um, por direito, sente como extraordinário.

Comunicar nesse território individual e popular, contudo, não basta.

A cada cinco minutos, o filme insiste em overdosar a emoção com canções, em reiterar que "a vida imita a arte" e ainda inventa um final com apoteose de lágrimas.

Sim, eu, você e todos nós choraremos. Depois, morreremos de vergonha.

ATÉ A ETERNIDADE

DIREÇÃO Guillaume Canet

PRODUÇÃO França, 2010

ONDE Espaço Itaú - Frei Caneca

CLASSIFICAÇÃO 12 anos

AVALIAÇÃO regular

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