Coleção expõe os traumas do Chile de Roberto Bolaño

Um jovem poeta, que frequenta as oficinas literárias de uma universidade chilena no início dos anos 1970, some após o golpe militar de 1973 e reaparece como um piloto audaz que escreve versículos bíblicos e estranhos poemas nos céus do Chile.

O narrador, porém, logo descobre que Carlos Wieder, o piloto-poeta, promessa das artes, e Ruiz-Tagle, o assassino, eram a mesma pessoa.

Esse é o cenário sombrio de "Estrela Distante", romance escrito por Roberto Bolaño (1953-2003) e 14º volume da Coleção Folha Literatura Ibero-Americana, que chega às bancas no próximo domingo.

A narrativa acompanha a fuga para a América de simpatizantes do nazismo e se inicia em um Chile às vésperas do golpe que mergulharia o país na ditadura de Augusto Pinochet, de 1973 a 1990.

Percorrendo os labirintos da história, das utopias e da literatura, Bolaño esquematiza a origem dos regimes que dominaram o continente no século 20 e a natureza de seus torturadores e torturados.

Através de documentos, ensaios, memórias pessoais e ficção, o chileno faz de sua literatura um retrato da história do país e de uma geração traumatizada pela tortura, pelo exílio e pela dor.

Nos anos 1970, Bolaño viveu na Europa lavando pratos em restaurantes, trabalhando como varredor de ruas e como vigia noturno. Logo se instalaria na Espanha, com sua mulher e dois filhos.

Lá, dedicou os últimos dez anos de sua vida às palavras, escrevendo febrilmente até sua morte, aos 50 anos.

Na tentativa de se distanciar das atrocidades cometidas pelos regimes ditatoriais, a América Latina é forçada a confrontar-se com os fantasmas do seu passado. Pela prosa de Roberto Bolaño, parte desses desalinhos adquire um valor universal.