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Crítica Drama Filme dirigido por Julia Murat se perde em busca excessiva por ambição poética Na medida em que essas "originalidades" tornam-se "referência", O sentido que expressam se esvazia E vira fórmula ou formalismo DO CRÍTICO DA FOLHAHá quase um ano circulando por festivais de maior ou menor grandeza e angariando prestígio, "Histórias que Só Existem Quando Lembradas" chega finalmente ao circuito e provoca o efeito de um balde de água fria. O longa de Julia Murat reproduz as qualidades e defeitos de muitos trabalhos da geração batizada, de modo genérico e confuso, de "novo cinema brasileiro": querer ser ou parecer ser mais do que é. O título expressa poeticamente as vidas em segredo, as existências que se perdem na poeira do tempo ou que se escondem em cantos longe do mundo. A veterana Sonia Guedes enche de dignidade a personagem de Madalena, uma senhora idosa que vive num lugar onde o tempo parece ter parado. Nesse universo de repetições, outros humanos vão vivendo, como se seguissem uma linha que não avança nem se interrompe. Os gestos de amassar e assar o pão, dispor numa prateleira, preparar e servir o café funcionam como signos de uma temporalidade em suspenso ou de uma duração oculta, mais percebida que capturada nos instrumentos de medição do tempo. O portão trancado do cemitério ou o relógio quebrado simbolizam não sem obviedades essa condenação à eternidade. Até que a chegada de uma jovem reintroduz a mudança, antes de a repetição se restabelecer. Tantas sugestões poéticas ou filosóficas, contudo, exigem uma ambição e um fôlego estético que o cinema de Julia Murat demonstra conhecer, mas não dominar. Os iniciados conseguirão reconhecer a interlocução com autores que fundem a abordagem documental com um modo de narrar rarefeito, fragmentar, que recusa os cânones do cinema clássico predominante nos filmes de mercado. Ou com artistas que manipulam a sensorialidade a fim de traduzir experiências compartilhando percepções. Na medida, contudo, em que essas "originalidades" são incorporadas num repertório, tornam-se "referência", seu sentido ou o daquilo que expressam se esvazia, vira fórmula ou formalismo. Têm utilidade restrita o prestígio dos festivais onde jornalistas e cinéfilos se amontoam em busca do "novo". Quando a bolha estoura, contudo, descobre-se que dentro não há nada. (CSC) HISTÓRIAS QUE SÓ EXIS-TEM QUANDO LEMBRADAS DIREÇÃO Julia Murat PRODUÇÃO Brasil/Argentina/França, 2011 ONDE Espaço Unibanco Pompeia, Playarte Bristol e circuito CLASSIFICAÇÃO 12 anos AVALIAÇÃO regular Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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