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Grupo cria imagens de sacrifícios em peça

Companhia americana La Pocha gerou reação dividida do público na estreia em Rio Preto

GUSTAVO FIORATTI
ENVIADO ESPECIAL A S. JOSÉ DO RIO PRETO

Guillermo Gomez-Peña conta mais de 40 cicatrizes espalhadas pelo seu corpo, e muitas delas resultaram de um trabalho performático que ele desenvolve desde os anos 1980 com sua companhia, La Pocha.

Para falar de cruzamento de culturas, de política de imigração e de outros assuntos relativos a sua condição de imigrante mexicano nos EUA, ele recorre à experiência de colocar-se na iminência do risco, sempre rabiscando com o corpo imagens relacionadas ao sacrifício -humano ou de animais.

O trabalho levado por ele ao Festival Internacional de Rio Preto, cujo título é "La Pocha Remix: Psycho-Magic Actions Against Violence", recria esse universo na pele de sete intérpretes, ele incluso.

O grupo se reveza em três plataformas distribuídas em um imenso galpão. O público costuma ficar de pé, em trânsito, como em um show.

Mais do que falar sobre -ou contra- a violência, o trabalho estende esse tema central para relações fetichistas de dominação e submissão.

Anteontem, Guillermo vestiu trajes que misturavam referências indígenas e usou ainda uma tromba de elefante de plástico no lugar onde estaria seu pênis.

Na plataforma vizinha à que ele ocupou, um surfista de peito nu e bandana na cabeça segurava o cadáver de um bode no colo. Não era "fake", e muita gente de fato fez cara de espanto e nojo, especialmente no momento em que o performer passou a girar o animal morto no ar.

Houve também, aliás, manifestações de satisfação, como assobios e risos. A trilha sonora, irônica, incluía Wagner e Whitney Houston.

Com um microfone, Guillermo militou ainda contra situações de repressão política. Pediu para que Deus abençoasse a Venezuela, o Afeganistão e a Coréia do Norte. Canadá e França ficaram pro fim, quando suas orações perdiam entusiasmo.

Depois do show, em entrevista à Folha, ele disse que há vinte anos deixou de se interessar pelo palco italiano. "Perdi interesse como artista e como espectador", reiterou. "Acho que esse modelo reproduz algo autoritário, em que o espectador fica muito comportado, não pode interagir."

Metade do público que marcou presença anteontem deixou a apresentação antes do fim. Mas a outra metade aplaudiu La Pocha com um grau extra de entusiasmo.

LA POCHA REMIX

QUANDO hoje, à 0h, amanhã, às 21h

ONDE Swift (av. Duque de Caxias, s/nº; tel. 0/xx/17/3202-2315)

QUANTO de R$ 2,50 a R$ 10

CLASSIFICAÇÃO 18 anos

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