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Autores criticam ausência de negros na Flip

DO RIO

Sentado no palco de um pequeno teatro no morro do Cantagalo, em Ipanema, o americano Teju Cole tinha à sua frente uma plateia muito diferente, em tamanho e composição, da que o recebera na Flip uma semana antes.

"Essa é a quinta apresentação que faço no Brasil e é a primeira vez que a maior parte do público se parece comigo", disse o autor de "Cidade Aberta", filho de nigerianos. Ele estava em um evento da Flupp (veja ao lado).

As diferenças entre os dois encontros e a composição de suas plateias não escaparam aos autores internacionais que subiram o morro da zona sul carioca, na quarta-feira.

"Há uma divisão enorme no Brasil", disse o indiano Suketo Mehta. "Estive em Paraty e fiquei espantado com a cor da audiência, toda branca. Saí para andar pela cidade e, à medida que me aproximava das áreas pobres, a cor das pessoas ia ficando gradualmente mais negra."

Diferentemente da Flip, onde a divisão racial e social foi tratada apenas marginalmente, se tanto, no evento da Flupp ela foi o tema que norteou a conversa literária dos escritores com o público.

Cole, que está preparando um livro sobre Lagos (a maior cidade nigeriana), defendeu a importância da literatura como veículo para que os moradores contem suas próprias histórias, evitando clichês.

"O problema das descrições imprecisas é que elas têm consequências políticas: se você vê as pessoas como primitivas, não como seus iguais, vai tratá-las com o mesmo colonialismo de sempre. A maior parte das pessoas não crê que os africanos são 100% iguais a elas."

FAVELAS

Já Mehta ("Bombaim - Cidade Máxima") lembrou da visita que fez a favelas cariocas em dezembro e comparou-as com as comunidades da Índia, destacando a vitalidade cultural e econômica.

"A maior parte do mundo pensa nas favelas como lugares pobres demandando coisas do Estado. Mas, dentro delas, você vê que há uma vida cultural vibrante e de grande viabilidade econômica e que deu origem a ritmos bem-sucedidos como o hip hop."

O indiano também falou sobre as UPPs, classificando-as como "um experimento muito interessante".

"Não precisamos reinventar a roda, há muitas experiências bem-sucedidas em cidades diferentes que podem ser reproduzidas por outras, e a pacificação das favelas do Rio é uma delas."

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