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Crítica Poesia

Coletânea é um guia à altura da obra de Rainer Maria Rilke

FLÁVIO MOURA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma figura sobressai nessa coletânea de poemas de Rainer Maria Rilke (1875-1926). É a do organizador e tradutor José Paulo Paes. Morto em 1998, Paes é um intelectual que faz falta -e essa edição nos lembra por quê.

Publicada originalmente em 1993, traz como abertura um ensaio de Paes que é possivelmente a melhor coisa sobre o poeta em português.

Apresenta sua obra e trajetória ao leitor que nunca leu Rilke, contextualiza o papel do artista em meio ao modernismo literário na Europa, discute com comentadores e se detém na análise de versos significativos.

O que esse texto consegue é desarmar o leitor desconfiado. Pois convenhamos: é fácil ter preconceito contra Rilke. É sinal de amadurecimento literário renegar a pieguice das "Cartas a um Jovem Poeta". "Se podes viver sem escrever, não escrevas"? Difícil encontrar idealização da atividade de escritor maior do que essa.

Também não ajuda o modo como foi recebido no Brasil. Traduzidos nos 1940, seus versos empertigados e de fundo religioso foram usados como antídoto aos supostos excessos de humor e temas pedestres da poesia modernista, num processo que logo o associou à banda retrógrada da literatura brasileira.

A coletânea reúne poemas das principais obras de Rilke, com destaque para "O Livro de Horas" (1905), "Novos Poemas" (1907), "Elegias de Duíno" (1922) e "Sonetos a Orfeu" (1922).

É claro que o tom altissonante e o fervor religioso estão lá, mas condená-lo por esses atributos é fechar os olhos para a principal contribuição de sua poesia.

VIBRAÇÃO DOS VERSOS

Vale a pena deixar de lado o preconceito, também ele incutido, diga-se, pela hegemonia da dicção modernista na poesia brasileira, e apurar a escuta para a vibração daqueles versos.

Não em busca de epifanias, como queriam seus leitores mais ardorosos do passado, mas pelo sentido transcendente que a linguagem podia assumir numa trajetória singular como a dele.

O volume traz os textos em alemão e português. A tradução restitui aos poemas a construção formal de origem, ausente nas primeiras versões publicadas no Brasil.

Com isso fica possível notar o engenho rítmico e musical de um poeta na lida constante com esquemas rígidos de metrificação.

Rilke é autor que requer apreensão cuidadosa e pede um guia à altura.

É o que faz esse volume, que tem a virtude de condensar panorama, didatismo, rigor na seleção, tradução criteriosa e densidade analítica. Por essas e muitas outras, José Paulo Paes faz tanta falta.

POEMAS

AUTOR Rainer Maria Rilke

EDITORA Companhia das Letras

TRADUÇÃO José Paulo Paes

QUANTO R$ 35 (216 págs.)

AVALIAÇÃO ótimo

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