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Crítica quadrinhos Autor escapa do moralismo em HQ didática e divertida RODRIGO LEVINOEDITOR-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA” A certa altura de "Pagando por Sexo", Chester Brown faz o seguinte cálculo: se sair com uma garota de programa a cada três semanas, gastará US$ 2.700 por ano. Esse, digamos, pragmatismo do autor é uma baliza possível para a novela gráfica. Em 33 capítulos, Brown conta, com um nanotraço que muito lembra os trabalhos do norte-americano Chris Ware ("Jimmy Corrigan") e um misto de humor e alheamento que remete a Daniel Clowes ("Eightball"), como se envolveu com 23 prostitutas. E escapa de três armadilhas: soar chulo, moralista ou cheio de comiseração. Longe disso, alterna humor, reflexão e enternecimento ao tatear o leque que se abriu para ele depois de um senhor pé na bunda. A turnê pelo mundo da prostituição se justifica aos poucos com um discurso que não tenta convencer o leitor. Para Brown, laços românticos são opressores e pessoas se ligam umas às outras em namoros e casamentos por culpa de um ego frágil. Ou o contrário: para se impor, aproveitando as lacunas emocionais do outro. Sexo pago seria uma opção para fugir dessas questões -o que não deixa de expor certa inabilidade social e afetiva do protagonista. Aos poucos, ele revela a intimidade de suas parcerias e os seus desempenhos na cama. E aprende com elas os códigos que regem a relação com os clientes (quando dar ou não gorjeta, o que fazer ao se deparar com alguém que não era o que anunciou etc.), além de esmiuçar os motivos que as mantêm na profissão (nem sempre ligados a sacrifícios ou falta de opção). Ainda há um sem número de apêndices e notas em que Brown analisa a prostituição sob prismas como poder, legalidade, dinheiro, afetividade e objetificação sexual. Vale o quanto cobra.
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