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Teatro Teatro físico rompe barreiras de linguagem Antes restrito à expressão corporal do ator, gênero se reinventa em espetáculos de duas companhias brasileiras Lume Teatro e Dos à Deux experimentam com projeções, texto e manipulação de objetos em novas montagens GABRIELA MELLÃOCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA "Que tipo de ator você é, físico ou de texto?" Esta foi a frase mais ouvida por André Guerreiro Lopes entre 2000 e 2006, temporada em que o ator e diretor viveu em Londres, atuando como membro do tradicional grupo de teatro físico inglês L'Ange Fou. A pergunta que atesta a rigidez das fronteiras entre teatro físico (calcado na expressão corporal do ator) e dramático pouco a pouco perde sentido, como pode-se notar nos próximos trabalhos do Lume Teatro e da Companhia Dos à Deux -dois dos principais grupos do gênero do país. O Lume estreia na semana que vem "Os Bem-Intencionados", criação coletiva em parceria com Grace Passô, uma das autoras mais interessantes da nova geração, que também dirige a obra. É a primeira vez que o grupo de Campinas, fundado em 1985 por Luís Otávio Burnier, discípulo do mímico francês Étienne Decroux, e Carlos Simione, compõe personagens a partir de características psicológicas e não corporais. O desejo de reinvenção através da experimentação de novas linguagens surge como um movimento geral do teatro físico -presente também no gênero dramático. "Antes era cada macaco no seu galho, hoje há um trânsito maior entre as linguagens", explica Artur Ribeiro, fundador da companhia franco-brasileira Dos à Deux. O grupo inicia a comemoração de seus 15 anos com "Ausência", solo com Luís Melo que estreia em setembro no país e em seguida na França. Também prevê uma mostra de repertório em Paris no ano que vem. Se "Dos à Deux", espetáculo que marcou o início da trajetória do grupo, dispensava cenografia e se concentrava na gestualidade do ator, "Ausência" e obras mais recentes como "Fragmentos do Desejo" se utilizam de inúmeros recursos para potencializar a visualidade da cena. Entre eles estão projeções de imagens e manipulação de objetos. Texto também passa a ser permitido. OLHAR ÁCIDO As deficiências do mundo contemporâneo servem de inspiração aos novos trabalhos das companhias. A pesquisa de "Os Bem-Intencionados" começou em 2000 com o propósito de usar a linguagem do bufão para lançar um olhar ácido sobre a realidade. O grupo pesquisou deformidades físicas humanas. Com o tempo, optou por interiorizar as anomalias da sociedade, centrando a pesquisa na ânsia do homem em perder sua invisibilidade. Para Simione, "os bem-intencionados não têm identidade, são amadores que tocam numa banda porque querem ser celebridades". "Ausência" apresenta o embate de um homem solitário com ratos, em 2036. O protagonista vive recluso. Por sua janela, do alto de um prédio, avista um mundo apocalíptico. "Queríamos falar do caos urbano e da solidão nas metrópoles", conta Ribeiro. O absurdo dá o tom de ambos os espetáculos. Lopes também explora o estranhamento causado por narrativas surreais em "Inferno ou a Mão Invisível". O espetáculo, que estreia em outubro na cidade, como parte das comemoração do centenário de August Strindberg, transpõe ao palco "Inferno", romance autobiográfico em que o autor sueco relata uma estranha jornada por seu inconsciente.
OS BEM-INTENCIONADOS |
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