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Crítica trilogia

Espetáculos mostram amadurecimento sensível da estética de companhia de SP

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

Quase não mais teatro. Os três experimentos do projeto "A Máquina do Tempo (ou Longo Agora)", de OPOVOEMPÉ, propõem aguçar nossa percepção sobre o tempo, e, para isso, desafiam convenções teatrais.

No primeiro e mais brilhante, "O Farol", não há propriamente drama. Quem atua é o espectador, guiado por agentes mediadores que o apoiam.

A criadora, Cristiane Zuan Esteves, constrói uma dramaturgia sonora, inserida nos aparelhos de MP3 portados pelas duplas de espectadores, ao longo de um trajeto de 90 minutos.

Mas o que se ouve não é uma narrativa dramática, e sim vozes, sons e músicas interagindo com os viajantes e as paisagens contempladas.

O assunto é a velocidade, experimentada em passeio pelos elevadores, escadas rolantes e espaços secretos de um grande centro de compras e eventos, e, depois, em trem intermunicipal margeando o Rio Pinheiros.

O espectador torna-se autor de seu devaneio. Ele é o performer e real criador da obra em curso.

O teatro, ou o que restaria dele quando já não há mais atores fingindo uma fábula, abre-se à cidade e ao seu ritmo, e quem os frui encena pra si, em sua trajetória, o que bem lhe aprouver.

Esta perspectiva se explicita, ao mesmo tempo, de forma mais densa e mais singela, no segundo trabalho, "O Espelho", que transcorre no espaço das figueiras do Parque da Água Branca.

Debaixo de árvores centenárias, público (no máximo 15 pessoas) e propositores sentam-se a uma mesa farta de quitutes para conversar.

LEMBRANÇAS

Lembranças de avós e bisavós pelas atrizes, despidas de qualquer máscara, são disparadores para que os participantes entrem no espírito de recordar sensações antigas. Depoimentos gravados de velhos e crianças sobre o passado e futuro, vida e morte, ouvidos individualmente, completam esse delicado mergulho introspectivo.

Na terceira fase do projeto, "A Festa - Compartilhar o Agora", há um recuo à forma teatral, mas mantendo-se ainda certa distância do drama.

Não há história narrada, mas explicitação da "máquina do tempo", materializada em jogos muito simples, preocupados em enfatizar a atualidade das presenças de espectadores e atores.

À parte a tentação de pontificar sobre o tema, contrastante com a liberdade de leitura oferecida nas outras seções, o que acontece é um belo desenvolvimento delas, agora na forma de espetáculo, mesmo despido de trama e estruturado apenas em rotinas banais.

OPOVOEMPÉ apresenta, nessa trilogia simultânea e rara, um amadurecimento sensível de sua estética. Dispensando procedimentos convencionais, ousa inventar novos modos de teatralidade.

A MÁQUINA DO TEMPO (OU LONGO AGORA)

AVALIAÇÃO ótimo

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