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Teatro encenado no escuro brinca com cinco sentidos

'O Grande Viúvo' abre mão das imagens e mergulha em enigma psicológico

Elenco formado também por atores cegos desafia imaginação do público em texto lúgubre de Nelson Rodrigues

MARCOS DÁVILA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Numa cidade onde a luz não pode faltar sequer um minuto e as imagens gritam e esperneiam a cada esquina, uma peça encenada no escuro é um convite à imaginação.

Esse é o mote de "O Grande Viúvo", adaptação teatral de um conto de Nelson Rodrigues, em cartaz no Tucarena.

Com direção de Paulo Palado, a experiência chamada de "teatro cego" proporciona a redescoberta dos outros sentidos -sempre relegados ao papel de coadjuvantes.

"Essa não é uma história de terror e não haverá sustos", alerta uma atriz, na entrada do teatro, antes de começar a peça.

Em fila indiana, o público penetra a escuridão, cada um com a mão apoiada no ombro do espectador da frente. Quem encabeça a fila é a própria atriz, deficiente visual, auxiliada por sua bengala.

A cena lembra o romance "Ensaio sobre a Cegueira", de José Saramago, no qual quase todos os personagens ficam cegos subitamente.

Até que todos se acomodem, o burburinho do público se mistura com alguns sussurros dos atores e um ambiente sonoro, criado ao vivo por um quarteto. A plateia tenta identificar os timbres de cada instrumento: violoncelo, violino, clarinete e espineta, de som intrigante, que faz mistério até a peça acabar.

CEMITÉRIO DOS SENTIDOS

Um choro desesperado abre a cena. Percebemos que estamos em um cemitério. O ruído de um caixão se abrindo e, mais adiante, o golpe metálico de uma pá na terra não deixam dúvidas.

Como em uma novela de rádio, as vozes marcantes dos personagens contam a história de um viúvo inconsolável, que pretende se matar assim que terminar de construir um mausoléu para a mulher.

A partir da direção do som, é possível ter uma orientação espacial do cenário, como se o público tivesse o radar aguçado do Demolidor, o super-herói cego das HQs.

O cemitério fica no fundo à esquerda; a cozinha da casa, à direita. Depois de poucos minutos no escuro total, os outros sentidos ficam mais poderosos. O cheiro de café traz um aconchego atávico.

A música também ajuda a compor o ambiente. O mesmo tema romântico sempre acompanha os devaneios e as lembranças do viúvo, por exemplo.

Lá pelas tantas, é possível atribuir algumas características aos personagens, como a altura, a cor do cabelo e o tipo físico -sem contar as curvas da falecida. Vai da imaginação de cada um.

O GRANDE VIÚVO
QUANDO qua. e qui., às 21h; até 9/8
ONDE Tucarena (r. Monte Alegre, 1.024; tel. 0/xx/11/3670-8462)
QUANTO R$ 40
CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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