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Crítica Ensaio Autora traça painel saboroso da ficção policial Escritora consagrada do gênero, inglesa P.D. James analisa história dos romances de detetive, dos primórdios até hoje É conhecedora profunda desse gênero paradoxal, tão lido, enaltecido, difamado, estudado e discutido TONY BELLOTTOESPECIAL PARA A FOLHA Phyllis Dorothy James, a grande dama do romance policial inglês, criadora dos memoráveis detetives Adam Dalgliesh e Cordelia Gray, prova em "Segredos do Romance Policial" que, além de autora consagrada, é uma conhecedora profunda desse gênero paradoxal por definição, tão lido, enaltecido, difamado, estudado e discutido. Embora o foco principal do livro seja a literatura policial inglesa, a dos norte-americanos não deixa de ser abordada pela autora, pois é impossível dissertar sobre o gênero sem que se reconheça que ele foi inventado pelo bostoniano Edgar Allan Poe. Ele criou, na primeira metade do século 19, não só a literatura policial, mas também outros gêneros e subgêneros literários modernos, como a ficção científica e a literatura fantástica. Conquanto Poe tenha concebido o primeiro detetive literário, o enigmático Auguste Dupin, P.D. James concorda que o grande detetive por excelência é Sherlock Holmes, criação de Arthur Conan Doyle, provavelmente o personagem mais popular do Universo ao lado de Dom Quixote e, talvez, Harry Potter. Misses James faz uma bela análise da obra de Conan Doyle, mostrando que a figura do detetive científico e intuitivo encarnada por Holmes -que tocava violino e consumia cocaína com regularidade- era fruto de uma época específica -final do século 19- num lugar específico, a Londres vitoriana, centro nervoso do Império Britânico. RAINHAS DO NOIR A partir de Sherlock Holmes, sem deixar de passar pelo peculiar Padre Brown, de G.K. Chesterton, um improvável padre detetive, a minuciosa investigação de madame Phillys Dorothy nos conduz ao que ela denomina a "Era Dourada" da literatura policial britânica. Foi a época em que reinaram quatro rainhas do noir: Agatha Christie, Dorothy L. Sayers, Margery Allingham e Ngaio Marsh, mestras nas tramas complexas em que a vítima em si era menos importante do que as rocambolescas maquinações dos assassinos para desafiar as mentes brilhantes dos detetives e entreter leitores ávidos por enigmas quase insolúveis. No período entre as guerras surge na América um fato novo na literatura policial: agora as histórias de detetives tratavam de crimes reais, aqueles que acontecem às pessoas de carne e osso. P.D. James não deixa de reconhecer a importância, e analisar com detalhes de especialista, as obras de Dashiell Hammett, Raymond Chandler, Ross MacDonald e outros, que a partir da década de 1920 criaram detetives durões, homens desiludidos e quase amorais, para quem a afetação de Sherlock Holmes e Hercule Poirot soava como pura frescura. Mais uma vez lady James nos prova que detetives "hard-bolied" como Continental Op, Sam Spade, Philip Marlowe e Lew Archer são fruto de uma época específica -o período entre as grandes guerras- num lugar específico -o submundo das grande cidades americanas. P.D. James termina seu saboroso livro fazendo uma análise positiva da literatura policial atual e vaticinando que sua popularidade "sugere que no século 21, assim como no passado, muitos de nós continuarão a buscar alívio, diversão e um brando desafio intelectual nessas despretensiosas celebrações da razão e da ordem, em nosso mundo cada vez mais complexo e desordenado". God save the Queen! SEGREDOS DO ROMANCE POLICIAL AUTOR P. D. James EDITORA Três Estrelas TRADUÇÃO José Rubens Siqueira QUANTO R$ 29,90 (184 págs.) AVALIAÇÃO ótimo Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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