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Crítica Romance Espanhol narra, à la Tarantino, história de homens que se matam por dinheiro NELSON DE OLIVEIRAESPECIAL PARA A FOLHA O espanhol de sobrenome complicado Milo J. Krmpotic (culpa dos avós croatas) ambientou seu segundo romance, "As Três Balas de Boris Bardin", numa provinciana cidade argentina durante a década de 1980. Pena que se perdeu na tradução para o português um elemento estilístico importante: o espanhol de traços argentinos, captado pelo autor, mesmo do outro lado do Atlântico. Mas não se perderam a pancadaria, as insinuações interrompidas e os silêncios tensos, adensados pela testosterona. Tampouco se perdem a linguagem sinuosa, elíptica, certamente ensinada pelos filmes de Quentin Tarantino e livros de Cormac McCarthy. Krmpotic é um ficcionista habilidoso. Ele soube aparar as arestas do registro coloquial, a fim de encaixar perfeitamente as gírias e os palavrões em um molde literário bipartido. macheza fragmentada O romance está dividido em dois discursos alternados e complementares, um em primeira pessoa e o outro em terceira. Em primeira pessoa, temos um investigador bruto e inominado que chega a uma cidade também bruta e inominada. Ele vem de Buenos Aires para investigar o roubo de um carro-forte. Já o segundo narrador, onisciente, acompanha as trapalhadas do ex-policial Boris Bardin, de sua família e de seus colegas, em capítulos muito curtos e, portanto, fragmentários. "As Três Balas de Boris Bardin" é um romance sobre dinheiro. Mas é principalmente sobre homens roubando, espancando e matando outros homens por dinheiro. As mulheres, quando atravessam a trama, são travessas e voluptuosas, e vêm atender outra demanda da testosterona: sexo. Em menos de dez palavras: ficção sobre machos endereçada ao público masculino. Confirmando a configuração, como querem alguns editores, de uma nova categoria literária: "ficção macha" (dinheiro, violência e sexo). É claro que uma etiqueta como essa e outras novíssimas -"mommy porn", "neuroliterature" etc.- nada dizem sobre a qualidade das obras. As etiquetas apenas ajudam o livreiro a colocar os livros na prateleira certa. O romance de Krmpotic destaca-se do grupo maior de ficções machas convencionais graças a um detalhe: a maldade absoluta. Bendito detalhe: não há boas intenções em "As Três Balas de Boris Bardin", narrativa em que os maus apanham dos piores e ninguém escapa ileso. Nem sequer a reputação do país vizinho se safa sem uns bons hematomas. "O argentino é um lobo para o homem, todo homem, sem importar sua nação ou circunstância", o investigador reflete entre uma porrada e outra. "A prática diária de foder o próximo é nosso esporte favorito depois de dar chutinhos na bola." AS TRÊS BALAS DE BORIS BARDIN AUTOR Milo J. Krmpotic EDITORA Tordesilhas TRADUÇÃO André de Oliveira Lima QUANTO R$ 29,50 (128 págs.) AVALIAÇÃO bom Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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