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Crítica drama

Peça dá resposta interessante à explorada morte de Cobain

Monólogo de Sérgio Roveri esmiúça a vida do ex-líder da banda Nirvana

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

Mito e fabulação. "Aberdeen - Um Possível Kurt Cobain" é uma tentativa honesta de revisar o suicídio de um dos ídolos do rock'n'roll mais pranteados das duas últimas décadas.

Kurt Cobain (1967-1994), cantor, guitarrista e compositor da banda norte-americana Nirvana, matou-se em condições misteriosas, alguns dias depois de fugir de internação para tratar de uma dependência de drogas. Ele foi encontrado com um tiro na cabeça e entupido de heroína. Calcula-se que permaneceu três dias morto antes de ser descoberto.

O dramaturgo Sérgio Roveri partiu desse fato para fabular uma sobrevida do roqueiro nesse período incerto, ou uma improvável lucidez que ele teria mantido no intervalo entre sua morte e o momento em que seu corpo foi achado por um eletricista.

O teatro, desde os gregos, retoma mitos do passado para reapresentá-los em novas versões possíveis. Repete acontecimentos conhecidos na esperança de revelar novos ângulos insuspeitos.

No caso, Roveri tinha pouca margem de manobra. Não só porque a saga de Cobain já foi objeto de filmes e livros, e exista uma indústria em torno dela, como pela hipótese estapafúrdia a sustentar.

SOLUÇÃO CÊNICA

Mesmo assim, contando com a entrega do ator que lhe propôs o desafio, Nicolas Trevijano, e com uma ótima solução cênica oferecida pelo diretor estreante, José Roberto Jardim, conseguiu dar uma resposta interessante, ainda que lúgubre.

Se a situação era inverossímil, Roveri serviu-se de um suposto amigo imaginário da infância do cantor para criar alguma interlocução.

O monólogo se torna evocação de traumas e frustrações, compiláveis na curta biografia de Cobain, mas afirma mesmo, talvez involuntariamente, seu narcisismo exacerbado.

Colabora na fantasia o fato da cena estar muito escura, só iluminada por poucos e alternados focos que o próprio ator protagonista manipula, como se fossem os últimos flashes dessa consciência em desagregação.

Decisivo também o desempenho de Trevijano, que sustenta o espetáculo nesse mínimo de visibilidade e com fragmentos entrecortados de falas.

Considerando os riscos do projeto, minado pelo excesso de exposição do biografado e por uma situação dramática pouco crível, o que se obtém é satisfatório.

O fantasma de Kurt Cobain aparece para morrer de novo.

ABERDEEN - UM POSSÍVEL KURT COBAIN
QUANDO sáb., 21h, dom., 20h
ONDE Galeria Olido (av. São João, 473; tel. 0/xx/11/3397-0176)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom

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