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Casa em que viveu e morreu Stefan Zweig vira centro cultural

Após 70 anos, imóvel em Petrópolis (RJ) recebe acervo do austríaco autor do clássico "Brasil, País do Futuro"

Jornalista Alberto Dines responde pelo projeto, que contou com 'apoio simbólico' dos governos alemão e austríaco

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DO RIO

"Antes de deixar a vida, de livre vontade e juízo perfeito, uma última obrigação se me impõe: agradecer do mais íntimo a este maravilhoso país, o Brasil, que propiciou a mim e à minha obra tão boa e hospitaleira guarida."

Foram precisos 70 anos para que o país voltasse a fazer jus aos agradecimentos que Stefan Zweig (1881-1942) deixou em sua carta de despedida: no domingo, dia 29, a casa em que o escritor austríaco passou seus últimos meses, em Petrópolis (RJ), será aberta ao público como museu.

A inauguração da Casa Stefan Zweig é o principal evento comemorativo de uma série de efemérides que se sucedem desde o ano passado: os 70 anos do clássico ufanista "Brasil, País do Futuro", os 130 anos do nascimento de Zweig e os 70 de seu suicídio ao lado da mulher, Lotte (leia ao lado trecho de carta da escritora Gabriela Mistral sobre o suicídio do casal).

O projeto, orçado em R$ 1,2 milhão, foi bancado por amigos e admiradores do austríaco, um "bando de loucos", como define o jornalista Alberto Dines, biógrafo do escritor e presidente da casa.

Ele diz ter recebido "suporte simbólico" dos governos austríaco e alemão e da Prefeitura de Petrópolis, mas nada do governo brasileiro. O único órgão que fez algo, segundo Dines, foi a TV Brasil (na qual ele apresenta o "Observatório da Imprensa"): um documentário sobre Zweig, que vai ao ar em setembro.

"A gente quer recuperar a memória dele, fazer com que a importância que ele tinha nos anos 1930 e 1940 seja reavaliada e mantida", diz.

Dines lembra que o descaso oficial com a memória do escritor vem de longe: logo após sua morte, o cunhado de Zweig ofereceu ao Brasil "acervo de valor inestimável".

"Eram 560 volumes, todas as obras no original, além de manuscritos, anotações para futuros trabalhos, alguns móveis e objetos pessoais, fotos autografadas de seus amigos íntimos, como Freud, Toscanini, Strauss", afirma Dines.

A oferta foi encaminhada ao Ministério da Justiça em 1943, "que não se mexeu, porque estava infestado de integralistas e não achou importante", diz o jornalista.

BANGALÔ COM VARANDA

Zweig, um dos escritores mais respeitados do período entreguerras, com uma produção que inclui ficção, biografias, ensaios e poemas, chegou ao Brasil em 1941, fugindo da ascensão nazista.

Mudou-se com a mulher, Lotte, para uma casa apertada, que descreveu em carta como "pequeno bangalô com sua grande varanda coberta, que é nossa sala de estar".

É esta casa, situada numa encosta íngreme, que o público vai poder conhecer.

"Será um centro de memória baseado nesses princípios modernos de usar interatividade, materiais audiovisuais. Nós não temos grandes documentos, mas queremos trazer o clima, para as pessoas sentirem isso", diz Dines.

Como parte do "clima" a que se refere o jornalista, foi mantido o quarto em que o escritor se envenenou, ao lado da mulher. Nele, haverá apenas uma reprodução do texto de despedida, escrito em alemão, com título em português ("Declaração").

O presidente da casa destaca como peça mais importante a máscara mortuária de Zweig, feita por um escultor amador de Petrópolis. "Os herdeiros dele a doaram."

EXPOSIÇÃO STEFAN ZWEIG E MEMORIAL DO EXÍLIO
QUANDO dia 29 (dom.); visitação: sex. a dom., das 11h às 17h
ONDE Casa Stefan Zweig (r. Gonçalves Dias, 34, Petrópolis, RJ, tel. 0/xx/24/2245-4316)
QUANTO grátis

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