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Kenny Werner incorpora alma do improviso em concertos no Brasil

Pianista americano que toca hoje em SP fala sobre influências de Chico Buarque e de Tom Jobim

Após apresentação em Belo Horizonte, músico fala de suas inspirações e mostra-se otimista com o atual panorama do jazz

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ainda pouco conhecido no Brasil, o pianista Kenny Werner, 59, é um caso típico do que se costuma chamar de "músico dos músicos".

O fato de Werner ser elogiado por colegas do alto escalão do jazz e da música instrumental, como o megaprodutor Quincy Jones e o gaitista Toots Thielemans, porém, não significa que sua música seja hermética ou cerebral.

Werner, a atração de hoje da Casa do Núcleo, em São Paulo, é um especialista em criatividade e improvisação.

Seu livro "Effortless Mastery" (maestria sem esforço, em tradução livre), publicado em 1996, costuma ser recomendado por conceituadas universidades em todo o mundo, não só em cursos de formação musical.

Em entrevista à Folha, por telefone, o norte-americano revelou que suas investigações no campo da criatividade começaram no Brasil.

No início da década de 1970, ao cursar a Berklee School of Music, em Boston, fez amizade com o saxofonista Victor Assis Brasil (1945-1981), que o convidou a visitar o Rio. Assim conheceu o pianista João Carlos Assis Brasil, irmão gêmeo de Victor e que marcou a concepção musical do americano.

"Naquela época eu ainda tocava de forma muito tensa. João já tinha desenvolvido uma abordagem mais pessoal, uma maneira quase zen, muito relaxada de tocar. Ele mudou meu toque ao piano, corrigindo o modo como eu estudava", relembra.

Foi nessa viagem também que Werner se interessou pela música brasileira.

"É o meu grande amor. A música que faço costuma ser original, não tem a ver com um repertório estabelecido. Mesmo assim toco com muita alegria a música de Tom Jobim ou a de Chico Buarque", diz o pianista.

"Toco música brasileira apenas para apreciar os acordes e as belas harmonias."

ACORDES AMBICIOSOS

Premiada com uma bolsa da Fundação Guggenheim, a composição "No Beginning, No End" (lançada em CD pela Half Note, em 2010) é considerada a obra mais ambiciosa de Werner.

Escrita para quarteto de cordas, grupo de sopros e coro, num total de 70 músicos participantes, essa peça nasceu a partir de uma tragédia vivida pelo músico: a morte da filha de 16 anos, Katheryn, em um acidente de carro, em 2006.

Após o concerto de ontem, durante o 10º Savassi Festival, em Belo Horizonte (MG), Werner traz hoje a São Paulo seu inventivo trio, que destaca o baterista Ari Hoenig e o baixista Johannes Weidenmueller, com os quais toca há mais de uma década.

Werner mostra-se bem otimista ao se referir à cena atual do jazz: "Esse é o momento mais criativo que presenciei em toda a minha vida. Os músicos jovens são deslumbrantes não só porque tocam muito bem, mas por serem muito criativos".

"Não dá para comparar com o que aconteceu no jazz dos anos 1940, 1950 e 1960, é um outro momento, mas de alguma forma a música de hoje soa mais avançada. Isso me estimula muito", conclui o pianista.

KENNY WERNER TRIO
QUANDO hoje, às 21h
ONDE Casa do Núcleo (r. Pe. Cerda, 25; tel. 0/xx/11/3032-8401)
QUANTO R$ 30
CLASSIFICAÇÃO livre

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