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Crítica Drama

Avesso a clichês, filme encena os fantasmas do desencanto

Diretor encontra em Sean Penn um cúmplice em meio aos absurdos da trama

DO CRÍTICO DA FOLHA

A primeira aparição de Sean Penn em "Aqui É o Meu Lugar" leva a crer que assistiremos a uma biografia não autorizada de Robert Smith, fundador e líder da banda britânica The Cure, relíquia de quem foi jovem e deprimido 30 anos atrás.

A solução astuta do diretor italiano Paolo Sorrentino em seu primeiro longa em inglês, porém, pode decepcionar os nostálgicos do pós-punk. Em vez de retratar o adorado vocalista-guitarrista, o filme apenas se dedica a inventar um personagem que lembra alguém, em vez de pretender representá-lo.

A confusão das aparências vale para o conjunto das situações que "Aqui É o Meu Lugar" alinha. Cheyenne é um roqueiro depois da fama, vivendo à base de rendas e especulação financeira em um bairro tranquilo de Dublin, na Irlanda.

No prólogo, o filme imagina uma espécie de "reality show" sem dramaturgia, protagonizado por um ex-ídolo, aposentado precoce que não encontra mais nada para fazer ou sentir.

Quando chega a notícia de que seu pai, que ele não vê há 30 anos, está nas últimas, Cheyenne retorna a Nova York para o funeral.

Essa morte, por sua vez, faz emergir um passado ignorado por ele, que leva o personagem a atravessar a América a fim de desmascarar um carrasco nazista que trocou de identidade e vive seus últimos dias disfarçado de homem inofensivo.

CUMPLICIDADE

A sucessão de temas tão distintos pode sugerir um filme desossado, feito de uma sucessão de fetiches afetivos e pedagógicos do realizador.

Poderia ser assim, caso Sorrentino não tivesse encontrado em Sean Penn um cúmplice, um ator que torna o personagem palpável, mesmo em meio à lógica de absurdos da trama.

O aspecto irreal de Cheyenne, sua aparência de desenho borrado, ganha densidade com o andar lento e a voz recolhida que Penn sugeriu ao diretor italiano.

Tal opção pelo fantasioso, por tratar personagens como caricaturas, já se encontrava de modo menos resolvido nos filmes anteriores de Sorrentino, como nas orelhas de Andreotti em "O Divo".

Em "Aqui É o Meu Lugar", esse encanto do falso caminha junto com o desencanto. O excesso decorativo das cenas e dos movimentos de câmera serve para tornar mais explícitos os vácuos existenciais. O parentesco das imagens com o videoclipe faz o ritmo lento e contemplativo que toma lugar da velocidade ficar mais exasperante.

E, quando chega a hora de encenar o fantasma do Holocausto, o filme ainda alcança uma solução avessa ao clichê, imagem de risco e intolerável, como deve ser a visão do horror.

AQUI É O MEU LUGAR

DIREÇÃO Paolo Sorrentino

PRODUÇÃO EUA, 2012

ONDE Cinemark Cidade Jardim e circuito

CLASSIFICAÇÃO 12 anos

AVALIAÇÃO bom

(CÁSSIO STARLING CARLOS)

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