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O rei da Boca Maior produtor da pornochanchada, Antonio Polo Galante prepara filme biográfico e vira tema de retrospectiva em São Paulo
ENVIADO ESPECIAL A ITAPEMA (SC) Antonio Polo Galante fez fama e fortuna apostando, não raro, nas mais extravagantes histórias. Principal produtor da Boca do Lixo, como era conhecida a região do centro de São Paulo que concentrava a produção de filmes entre os anos 1960 e 1980, ele lançou pornochanchadas, terror, suspense, comédia, musicais, faroestes e filmes de cangaço. Talvez nenhum, contudo, de roteiro mais improvável que o de sua própria vida. Longe do cinema há 14 anos, morando no litoral de Santa Catarina desde 2001, o produtor de 78 anos quer encerrar a carreira com uma superprodução autobiográfica. O longa será inspirado no livro "O Bilhete Azul", escrito por sua mulher, Manuela, morta há poucos meses. O volume vai ser distribuído gratuitamente em São Paulo a partir da próxima quarta, quando começa no MIS (Museu da Imagem e do Som) uma mostra com 14 dos seus mais importantes filmes. DRAMALHÃO Nascido em Tanabi (SP), filho de imigrantes espanhóis pobres, ele perdeu a mãe aos 3 anos e foi encaminhado a uma instituição para menores abandonados, onde sofreu maus-tratos. Quando saiu de lá, aos 16 anos, foi guia de um cego, que o ensinou a ler e a escrever, e morador de rua. Apanhado pela polícia, se alistou no Exército a contragosto. Aos 21, deu baixa, com quase nada de dinheiro e menos ainda de expectativa. Dois dias depois, conseguiu um emprego no estúdio Maristela como limpador de banheiro. Logo seria promovido a ajudante de eletricista, e alguns anos mais tarde já se arriscaria a trabalhar por conta própria, na compra e venda de equipamentos. Num de seus negócios, adquiriu em 1967 um filme inacabado chamado "As Eróticas". Galante enxertou uma cena de striptease, mudou o título para "Vidas Nuas" e conquistou seu primeiro sucesso de bilheteria. Nascia ali o método Galante de produção: longas de baixo orçamento e filmagem rápida, financiados por ele mesmo e ancorados na nudez de belas atrizes. A fórmula seria testada, com resultados quase sempre positivos, nos 65 filmes que produziu com a equipe da rua do Triumpho, epicentro da região da Boca. Pragmático, Galante define de modo cru e direto o que considera um bom filme. "É o que dá dinheiro. O 'Vidas Nuas' é uma porcaria, mas deu dinheiro, então para mim é um ótimo filme." Por esse critério, entre os bons filmes que produziu costuma citar "A Ilha dos Prazeres Proibidos" (1979), de Carlos Reichenbach -"foi um estouro até na Argentina"- e "À Flor da Pele" (1976), de Francisco Ramalho Jr. -"20 semanas em cartaz". Do cinema brasileiro atual, diz gostar do trabalho de Daniel Filho ("Se Eu Fosse Você") e pouco mais. "O 'E Aí... Comeu?' é uma pornochanchada com bons atores. Faz sucesso porque tem muita propaganda na TV. Já 'Paraísos Artificiais' é um fracasso total. Só tem droga e mulher lambendo mulher. Não dá pra entender." OUTRO MUNDO Hoje, para alavancar seu novo projeto, Galante tenta se adaptar a um sistema bem diverso, dependente de editais e verbas públicas. "O Bilhete Azul" aguarda aprovação da Ancine para iniciar a captação de recursos. O produtor espera contar com R$ 8 milhões, muitas locações e centenas de figurantes para as filmagens. "É um filme para fazer pelo menos 5 milhões de espectadores. Vai comover muito o público feminino", aposta ele, crítico do atual modelo. "Agora o cara faz três fracassos e consegue do governo o dinheiro para fazer o quarto. Consegue mais verba quem é mais político. O resto não tem espaço. Na pornochanchada, tudo saía do bolso do produtor. Se errasse, tava acabado, era a miséria." Outra queixa dirige à Cinemateca, que ele acredita ter cedido um filme que produziu, "Anjos do Arrabalde" (1987), para a Cinemateca Francesa sem consultá-lo. À Folha, o órgão brasileiro disse que "nenhum filme sai daqui sem a autorização dos detentores dos direitos". Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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