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Bispo do Rosário lidera time de brasileiros em Londres

Artista terá exposição no Victoria & Albert enquanto contemporâneos ganham mostra na Somerset House

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Quando Arthur Bispo do Rosário foi internado na colônia Juliano Moreira em 1938, ganhou o apelido de Xerife e foi encaminhado à ala dos pacientes mais violentos do hospital psiquiátrico. Isso porque antes de seu diagnóstico de esquizofrenia, o artista fora campeão de boxe.

Esse lado esportista de Bispo do Rosário, artista que morreu em 1989 no manicômio no Rio, onde fez quase toda sua obra, será visto agora em Londres no Victoria & Albert, museu conhecido pelo acervo de design e arte têxtil.

Nos últimos anos, Bispo do Rosário vem perdendo a aura mística de louco e sendo reconhecido cada vez mais como artista singular do século 20, autor de uma poética do improviso que serviu de base para sua obra coerente.

"Temos de parar com essa tese de loucura, que diminui a obra dele", diz Wilson Lázaro, curador da mostra que começa em 13 de agosto. "Ele era um negro, nordestino, não poderia fazer essa obra em outro lugar, então usou a instituição como um ateliê."

No museu londrino, estarão roupas de esportista que ele costurou adaptando o uniforme do hospital, faixas de miss que inventou para hipotéticas mulheres, miniaturas de barcos a vela e outras peças de um conjunto que soma 83 trabalhos do artista.

Nome central da próxima Bienal de São Paulo, onde terá mais de 300 obras em exibição, Bispo do Rosário encabeça agora durante as Olimpíadas em Londres um time do primeiro escalão de artistas contemporâneos do país.

ESTÉTICA DA GAMBIARRA

Suas peças forjadas da transformação de materiais precários, aliás, tem proximidade com uma das discussões centrais da mostra na Somerset House, em Londres, com nomes como Regina Silveira, Nelson Leirner, Adriana Varejão e Laura Lima.

Contrastando a noção britânica de "craftsmanship" e a gambiarra dos brasileiros, Rafael Cardoso, curador da mostra, tenta desfazer estereótipos sobre a arte do país.

"Não estou tentando promover nenhuma 'estética da gambiarra' e muito menos uma visão 'macunaímica' da arte brasileira", diz Cardoso. "Acho necessário confrontar essas questões para tentar entender melhor as tensões profundas da nossa cultura."

Nesse sentido, a obra de Laura Lima que vai a Londres é uma síntese potente desse discurso. Ela transforma cadeiras clássicas do mobiliário moderno, peças de Charles Eames e Marcel Breuer, em cadeiras de roda, injetando um grau de fragilidade e improviso no que se propôs como desenhos utópicos.

Noutra ponta da mostra, obras de Adriana Varejão e Rodrigo Braga levam a reflexões sobre um Brasil entre o civilizado e o selvagem -um barroco redivivo, em Varejão, ou uma natureza avassaladora, como nas peças de Braga.

"Do Limiar à Margem: Arte e Design Brasileiros no Século 21" está em cartaz na Somerset House. Veja detalhes em somersethouse.org.uk.

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