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Musa de Buñuel retorna às telas em longa de uruguaio

Silvia Pinal, protagonista de "Viridiana", dá vida a anjo exterminador em nova produção latino-americana

DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MONTEVIDÉU

Depois de um evento artístico, realizadores, curadores e críticos ficam presos dentro de um museu de Buenos Aires, enquanto, do lado de fora, o mundo entra em caos.

Esta é a premissa de "El Ángel" (o anjo), novo filme do videoartista e cineasta uruguaio Martín Sastre, que tem como referência óbvia "O Anjo Exterminador" (1962), de Luis Buñuel.

A homenagem à obra do surrealista espanhol vai além do argumento principal.

Silvia Pinal, protagonista de "Viridiana" e que também participou de outros filmes de Buñuel, como o longa de 1962 e "Simão do Deserto", estará no filme de Sastre, em uma participação especial. Seu papel: "O de anjo exterminador", conta o uruguaio.

Exatamente há uma década, Sastre, 36, forjava, em curtas-metragens de tom lúdico e irônico, um futuro em que os latino-americanos dominavam o universo.

Em sua "Trilogia Ibero-Americana" (2002-2004), por exemplo, o artista -que participou das bienais de Veneza, São Paulo e Havana- reinventava blockbusters como "Guerra nas Estrelas" e lhes dava feições latinas.

Também fazia da Bolívia o centro do "império latino". Ou transformava o artista norte-americano Matthew Barney no afável dinossauro fúcsia Barney, pertencente ao universo infantil.

Em "El Ángel", a crítica ao mundo da arte e alguns dos conceitos de sua obra (como o questionamento sobre centro e periferia e a apropriação de ícones pop) retornam de forma mais sutil e complexa.

"El Ángel" é uma co-produção entre Uruguai, Argentina e Espanha e deve começar a ser filmado em outubro.

"Quando comecei a trilogia, poucas pessoas entendiam qual era seu verdadeiro conceito. Hoje, com todos os analistas econômicos indicando uma 'década da América Latina', é interessante ver as novas leituras que ganha essa obra, apenas dez anos depois", diz Sastre.

Outra de suas marcas, a defesa de um "Latin American way of life", está presente também no processo de produção do longa, realizado em parte por meio de uma plataforma virtual, L.A.L.A., inventada pelo próprio diretor e que tem por objetivo reunir realizadores da região.

FACEBOOK AUDIOVISUAL

Uma forma rápida de entender o que é o L.A.L.A. -Link Audiovisual Latino-Americano- é considerar que funciona como uma espécie de Facebook para realizadores da região.

A plataforma virtual criada por Martín Sastre (soylala.com) ainda opera de forma rudimentar, mas já reúne cerca de 600 integrantes, entre diretores, atrizes, roteiristas, produtores, técnicos e interessados em cinema no subcontinente em geral.

"O fato de Silvia ter aceitado estar no projeto não só me enche de felicidade pelo que isso significa -de alguma forma, estamos frente à própria história do cinema-, senão que também justamente uma rede latino-americana como a nossa nos irmana, faz com que nossos projetos sejam interessantes para uma das mais lendárias artistas do México", considera.

A nova empreitada tem como missão oferecer um modelo alternativo de produção cinematográfica, mais democrático e baseado em redes interpessoais.

"Viajar pela América Latina pode ser muito complicado, mas o acesso à internet é quase universal. Se preciso rodar uma sequência na Cidade do México, por exemplo, antes tinha que recorrer a amigos de amigos que me recomendassem uma pessoa. Mas, por meio da plataforma, agora posso encontrá-la com uma simples busca."

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