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Crítica coletânea

'Senhor' inaugurou era dos editores e do design nas revistas

Volume reúne o melhor da publicação que inovou a imprensa dos anos 1960 ao investir em texto e ilustração

PAULO WERNECK
EDITOR DA “ILUSTRÍSSIMA”

Aos 33 anos, Nahum Sirotsky liderou o grupo que fez das 59 edições da revista "Senhor" (1959-64) uma obra de arte. A equipe, em média, não passava dos 30 anos e era composta por gente como Carlos Scliar, diretor de arte, e Paulo Francis, editor.

Falar da "Senhor" é, fatalmente, desfiar uma enxurrada de nomes que sempre parece incompleta. "Todo mundo que sabia escrever" no país passou pela 'Senhor'", resume Ivan Lessa.

Dois de seus leitores mais empolgados -o colunista da Folha Ruy Castro e Maria Amélia Mello, editora do selo Civilização Brasileira, do Grupo Record- editaram um "best of" da revista, hoje tão cult quanto desconhecida. De quebra, há um making of com ex-integrantes.

A palavra-chave, mostra o livro, era edição. Ou seja, a conversa de alto nível entre texto, ilustração e design.

"A palavra 'editor' foi popularizada pela revista", assinala Francis em seu texto, artigo de 1992 publicado no jornal "O Estado de S. Paulo".

Sirotsky chegou a dizer que, até então, "não existia a tecla de deletar" nas revistas brasileiras. Nem a palavra "design". Diagramação, como se dizia, hoje é um termo quase pejorativo.

E como "não há diagramação brilhante que salve matéria chata", na definição de Scliar, os editores não se acanhavam em passar a borracha em textos de medalhões.

"Clarice [Lispector] reagia com a maior naturalidade e às vezes reescrevia passagens que terminava reconhecendo obscuras", anotou Francis. Virou folclore a negativa que Erico Verissimo, já um senhor escritor, levou de Nahum.

"Rejeitei até a mim mesmo!", disse o editor. "Eu não era bom o bastante para a 'Senhor'." Francis confirma o rigor que imperava: "Às vezes 'perdíamos' os artigos de colaboradores ilustres que nos infligiam parlapatices".

"Não é que sempre tinham cópia, prontinha, que mandavam por chofer? Então só havia o recurso do engavetamento e a conquista da inimizade de gente importante."

Exceto pelos já tradicionais problemas com autorizações (Guimarães Rosa, Nelson Rodrigues), "O Melhor da Senhor" faz jus ao nome e contém poucas "parlapatices".

Ruy Castro registra o embate entre Francis e Newton Rodrigues, "que ameaçou tornar 'Senhor' uma revista mais pesada e sisuda". Não era para menos: com a radicalização política, a coabitação de figuras como o então esquerdista Ferreira Gullar e o liberal Roberto Campos estava com os dias contados.

A luta entre os textos chatos, "mas importantes", e as delícias como as de Ivan Lessa no livro ("o ponto alto da revista, para este criado que vos fala, era o almoço"), prossegue na nossa imprensa cultural, sabe-se lá até quando.

O MELHOR DA SENHOR
ORGANIZAÇÃO Ruy Castro e Maria Amélia Mello
EDITORA Imprensa Oficial de SP
QUANTO R$ 120
AVALIAÇÃO ótimo
LANÇAMENTO hoje, às 18h30, na Livraria da Vila (r. Fradique Coutinho, 915; tel. 0/xx/11/3814-9954)

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