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Crítica Road Movie Déjà vu de filmes de estrada, longa não inova, mas encanta pelo sentimento RICARDO CALILCRÍTICO DA FOLHA O caminhoneiro João (João Miguel), protagonista de "À Beira do Caminho", parece carregar o peso do mundo nas costas. Ou talvez na boleia do seu caminhão. Ele esconde um trauma do passado, ligado a um amor perdido, que o tornou um homem taciturno. Contra sua vontade, João dá carona, em meio a uma viagem pelo Nordeste, ao menino Duda (Vinicius Nascimento), órfão de mãe que sonha conhecer o pai em São Paulo. O encontro irá desencadear transformações profundas nas vidas dos dois. Se João carrega o peso do mundo nas costas, "À Beira do Caminho" carrega o peso do cinema. Dos filmes que vieram antes dele, sobretudo "road movies", e que voltam à memória para despertar a sensação de déjà vu, de uma estrada já rodada. De cena em cena, "À Beira do Caminho" nos remete a outras obras: "Central do Brasil" (1998), "Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo" (2009), "Paris, Texas" (1984) e assim por diante. O diretor Breno Silveira não parece interessado em trazer novos elementos à equação básica do filme de estrada: homem à deriva/paisagem inóspita/trauma amoroso/orfandade. Como já havia demonstrado em "2 Filhos de Francisco" (2005), Silveira é um condutor talentoso, mas prudente. Ele prefere seguir a subverter a tradição, levar o espectador pela mão em vez de jogá-lo no escuro. Por outro lado, o diretor tem uma qualidade incomum, que também havia transparecido no seu longa de estreia: ele nunca se coloca acima de seus personagens, jamais desdenha de seus sentimentos. Silveira parece compartilhar as dores e descobertas do caminhoneiro João -predicado profissional que depois ganharia paralelo trágico com sua vida pessoal. Além dessa virtude, há outros dois trunfos: o trabalho de João Miguel, um ator sempre à altura das demandas emocionais de seus personagens, e a trilha com canções de Roberto Carlos, que continuam sendo a mais bela tradução do Brasil profundo. Quando João reaparece em sua antiga casa e soam os primeiros acordes de "O Portão" ("Eu cheguei em frente ao portão/meu cachorro me sorriu latindo..."), a cena pode não ser a mais original, mas, ainda assim, é irresistível. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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