Festival traz novas caras, mas problemas técnicos atrapalham

A ideia da nova organização do Festival de Gramado é recuperar o prestígio cultural que o evento perdeu ao privilegiar celebridades globais nos últimos anos.

E os dois primeiros dias mostraram essa intenção na escolha dos filmes. Se "360" roubou os holofotes com a presença do diretor Fernando Meirelles e da atriz Maria Flor, o longa que o sucedeu, "Eu Não Faço a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo com a Minha Vida", do diretor Matheus Souza ("Apenas o Fim"), mostrou um exemplar raro de produção jovem esperta, antenada e pouco reverente ao estilo de cinema brasileiro tradicional.

"Eu faço filmes que não são alternativos o bastante para agradar aos que gostam de cinema cabeça e nem populares o bastante para irem bem de bilheteria. Faço um caminho suicida no cinema nacional", conta o bem-humorado cineasta de 24 anos.

Apesar do acerto em investir em nomes diferentes -sábado foi a vez do quebradiço "Super Nada", segundo filme de Rubens Rewald, com o ótimo ator Marat Descartes-, Gramado pecou por falhas técnicas.

Nenhum filme nos dois primeiros dias de festival foi apresentado sem problemas. "360" foi tão mal projetado que Meirelles falou que "esse não era o filme que deveria ter sido visto."

O longa de Souza foi vítima da péssima acústica do Palácio dos Festivais, que fica entre dois bares com música ao vivo. No clímax da trama, ouvia-se claramente um cover (ruim) de "Another Brick in The Wall, Pt. 2" tocando como se fosse parte da trilha.

Na segunda noite, "Artigas", de César Charlone, mais conhecido pela direção de fotografia de "Cidade de Deus" e "O Jardineiro Fiel", sofreu com a acústica e, em determinado momento, a cópia digital começou a travar e uma cena inteira foi repetida.

Logo depois, foi a vez de "Super Nada", que escapou da banda cover, mas não pôde comemorar muito: a exibição foi interrompida por alguns minutos e a tela escureceu. Ironicamente, o diretor Rewald apresentou o filme dizendo que problemas de som como os da primeira noite acontecem. Deve ter se arrependido.