Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Crítica pop

Fiona Apple busca expurgar sentimentos

Primeiro disco de inéditas em sete anos é expressão máxima de uma artista sincera e complexa

É o auge de uma artista que passou anos tentando se expressar de forma original e sincera

PAULO TERRON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A carreira de Fiona Apple nunca foi simples: uma mistura de talento e inadequação culminou em uma possível anorexia e um belo álbum.

Lançada ao sucesso no meio dos anos 1990 com o disco "Tidal" (1996), ela se encontrou na difícil posição de "nova voz de uma geração" -que, após a morte de Kurt Cobain, dois anos antes, era o que queria a imprensa.

Tudo começou a desandar quando, numa premiação da MTV, a cantora discursou sobre a falsidade do showbiz.

No disco seguinte, de 1999, usou como título um poema de 400 caracteres (abreviado como "When the Pawn...").

Antes do terceiro, Apple se calou por cinco anos. Brigou com a gravadora e viu uma versão retrabalhada de "Extraordinary Machine" (2005) ser lançada contra a sua vontade.

Aí parou por mais sete anos, até que -de surpresa- lança "The Idler Wheel Is Wiser Than the Driver of the Screw and Whipping Cords Will Serve You More Than Ropes Will Ever Do" (outro poema; algo como "a roda ociosa é mais esperta que o motorista do parafuso e chicotadas lhe servirão mais do que qualquer corda").

O que distancia o novo álbum do resto de sua carreira é uma virada brusca para uma produção básica, mas de complexidade instrumental e temática, que dispensa a limpeza jazzista de antes. Quase tudo nas dez músicas (gravadas há dois anos) foi feito por ela e pelo baterista Charley Drayton.

As letras tratam de sentimentos como o amor, o arrependimento e o isolamento.

No primeiro single, "Every Single Night", a cantora e pianista lamenta: "Toda noite é uma briga com o meu cérebro", emendando com um "só quero sentir tudo". A melodia é apoiada na estrutura mais comum do álbum, com refrão e estrofes marcadas.

Em "Valentine", lamenta um amor perdido e a incapacidade de superá-lo. "Jonathan" eleva o nível de sinceridade, apontando para o ex-namorado de Fiona, o escritor Jonathan Ames.

Mas "The Idler Wheel..." não é uma coleção de canções de autoajuda ao estilo cultivado pela música pop contemporânea. É o auge de uma artista que passou anos tentando se expressar de forma original e, porque não, sincera -o que finalmente conseguiu ao se libertar de qualquer amarra ou restrição.

Por ser uma viagem ao fundo de uma mente conturbada, o trabalho não é de fácil digestão. Como em "Regret", de batida repetitiva, piano arrastado e letra ao estilo "discussão sobre o relacionamento", que evolui para gritos raivosos e primais.

É uma jornada nem sempre agradável, mas que, se enfrentada com atenção, pode revelar muito sobre originalidade e arte.

THE IDLER WHEEL
ARTISTA Fiona Apple
GRAVADORA Sony
QUANTO R$ 26,90
AVALIAÇÃO ótimo

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.