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Edimburgo vira capital da arte neste mês

Com cinco festivais simultâneos, cidade vê população dobrar em agosto e se torna vitrine mundial de artes cênicas

Brasil tem só dois espetáculos na maratona cultural; participação do país deve triplicar em 2013

FERNANDA MENA
ENVIADA ESPECIAL A EDIMBURGO

O verão escocês está longe do que os brasileiros possam associar a esta palavra. Em agosto, os termômetros da capital, Edimburgo, marcam temperaturas inferiores às do atual inverno paulistano.

Sob vento e chuva, dois rapazes circulavam ontem a passos curtos pela High Street, uma das mais movimentadas da cidade, com calças arreadas até os tornozelos.

"Faça esse frio valer a pena, vá ao nosso show", gritavam, agitando os flyers de uma peça cômica irlandesa.

A heterodoxia da estratégia se justifica: com cinco festivais simultâneos e 3.770 espetáculos concentrados apenas neste mês, a disputa por audiência na capital é acirrada.

Edimburgo se gaba de ser a cidade com o maior conjunto de festivais de cultura do mundo. São 12 no total -5 durante o verão escocês.

A farta programação funciona como vitrine para eventos de todo o mundo. A cada ano, cerca de mil programadores internacionais viajam para a Escócia atrás de novidades para o cardápio de seus eventos.

Nesse mercado global de teatro, dança e performance, o Brasil marca presença mais na procura do que na oferta, que neste ano é mínima: um monólogo e um balé.

O Festival Internacional de Edimburgo (cuja curadoria deste ano reuniu companhias da Polônia e da Romênia e ainda o Théâtre du Soleil de Ariane Mnouchkine e a companhia de Toga do diretor japonês Tadashi Suzuki) selecionou para seu programa a peça "Tatyana", da companhia de dança de Deborah Colker.

No Fringe, espécie de megafestival livre em que não há curadoria (os artistas pagam taxa para participar da programação), o ator Guilherme Leme apresenta "O Estrangeiro" com recursos próprios.

A peça é inspirada na obra de Albert Camus (1913-1960), com direção de Vera Holtz, e ganhou cinco estrelas na crítica do Fringe.

BRASIL

Em 2013, no entanto, já está programada uma mostra de trabalhos brasileiros nos festivais escoceses. Por outro lado, como pelo menos cinco programadores brasileiros estiveram em Edimburgo neste ano, espetáculos apresentados nos festivais escoceses devem marcar presença no calendário de eventos do Brasil.

"What I Heard About the World", parceria do grupo português Mala Voadora com os britânicos da companhia Third Angel, deve participar do festival Cena Brasil Internacional em 2013.

Com apenas três atores em cena, a peça confronta o tsunami de informações da vida contemporânea com humor e solos de guitarra, confundindo fatos e falsas notícias que tiveram seus 15 minutos de fama nas redes sociais.

Também deve se apresentar no Cena o espetáculo "Cesarian Section: Essays on Suicide", do grupo polonês Theatre Zar, que explora os limites entre o impulso de autodestruição e o instinto de sobrevivência em uma performance ritualística com clara influência do teatro pobre de Jerzy Grotowski (1933-99).

"Há teatro de muita qualidade no Brasil, e pessoas com a ambição de fazer parte de uma plataforma internacional como a nossa. Por outro lado, Edimburgo há tempos queria abrir o leque de países participantes. O que faltava era uma conversa", conta

Faith Liddell, diretora-geral da organização que reúne os 12 festivais escoceses.

Seis espetáculos brasileiros foram selecionados em junho pelo festival Cena Brasil Internacional, em parceria com o Centro Cultural Banco do Brasil, para apresentações no Fringe.

São eles: "Histórias de Família" (do grupo carioca Amok Teatro), "Ivanov" (do grupo cearense Cia. Teatro Máquina), "A Marca da Água" (da companhia Armazém, de Londrina), "A Tecelã" (do grupo Caixa do Elefante, de Porto Alegre), "Ato de Comunhão" (com direção e atuação de Gilberto Gawronski) e "Prometheus: A Tragédia do Fogo" (da companhia paulista Teatro Balagan).

"Estamos tentando abrir um mercado para espetáculos brasileiros no exterior para, com isso, provocar um debate sobre a nossa produção e seu alcance", explica Sérgio Saboya, diretor do festival Cena Brasil.

"A maior dificuldade é o investimento que os grupos têm de fazer para participar do Fringe [que não paga cachê, viagem, acomodação ou aluguel do teatro]", diz Saboya.

"O que existe no Fringe é um mercado, e os artistas querem se vender para o mundo. No Brasil, a subvenção matou esse mercado, e os espetáculos duram enquanto dura o patrocínio e pronto."

A jornalista FERNANDA MENA está hospedada a convite do British Council

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