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O filho eterno

David Grossman, cujo filho morreu em conflito entre Israel e Líbano, narra dor do luto em novo romance

Arquivo/France Presse
o sargento Uri Grossman, morto em combate a dois dias do cessar-fogo com o Líbano, em 2006
o sargento Uri Grossman, morto em combate a dois dias do cessar-fogo com o Líbano, em 2006

MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO

"Toda pessoa em vida passa pela experiência da perda de alguém muito próximo. Nessa hora é difícil achar palavras para expressar o que sentimos. Pensei muitas vezes que, em vez de escrever, queria era dar um grito que me cortasse em dois."

Em entrevista à Folha, o escritor israelense David Grossman, 58, tenta explicar do que é feito seu novo livro, "Fora do Tempo", lançado pela Companhia das Letras.

Em agosto de 2006, a dois dias de um cessar-fogo que encerraria a guerra com o Líbano, um foguete lançado pelo braço armado do Hezbollah atingiu o tanque em que Uri, 20, filho caçula de Grossman, então sargento do Exército israelense, estava com outros companheiros.

Todos morreram.

Por uma infeliz ironia, no começo daquele mês o escritor havia se manifestado contra o conflito e a favor de uma solução negociada, em uma conferência na qual estava acompanhado dos dois outros grandes nomes da literatura contemporânea do país, Amós Oz e A.B. Yehoshua.

"Sentei para fazer prosa e vi a poesia brotar. O livro é o resultado da tentativa de dar nomes a coisas que não tinham nome no começo", afirma Grossman.

Em "Fora do Tempo", sua décima obra de ficção, morte e luto emergem como os temas principais.

A narrativa é construída com o auxílio da parábola e entrelaçada de poesia.

Narra a história de um pai que, depois de cinco anos, decide romper o silêncio e diz para sua mulher que partirá numa jornada "para lá", onde sente que o aguarda o filho perdido.

"Seu vocabulário, meu filho -eu sinto- vai diminuindo com o passar dos anos", diz o caminhante, a certa altura do livro.

Estudioso da Bíblia, partidário da solução dos dois Estados e crítico ferrenho do governo atual, David Grossman também é jornalista.

Escreveu inúmeros artigos, e também livros de não ficção, a respeito do conflito árabe-israelense.

Para ele, Israel pratica ao mesmo tempo a democracia e o apartheid. "A vida aqui é dura; é como um trabalho em tempo integral", diz.

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