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'Há cada vez menos humor em Israel', diz Grossman

Para autor de 'Fora do Tempo', conflitos políticos eliminam a autoironia judaica

Autor conta que dor de perder um filho 'vira parte de você', mas diz que o livro fala também da intensidade da vida

DE SÃO PAULO

Leia os principais trechos da entrevista do israelense David Grossman, autor de "Fora do Tempo", à Folha.

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Folha - O sr. ficou satisfeito com o livro?

David Grossman - Lembro que uma das primeiras sensações após a perda do Uri foi de exílio. Você não se reconhece mais. Ao menos eu tentei contar com minhas palavras, não fiquei totalmente paralisado. Foi um ato de vontade.

E por que os cinco anos de silêncio do protagonista em "Fora do Tempo"?

As palavras são superficiais. Após a morte de Uri, em vez de querer escrever, eu sentia o desejo de correr quilômetros e quilômetros até que ficasse exausto.

Mas chega um momento em que você percebe que tem algo a falar. Somos humanos, e humanos precisam de palavras para tocar a realidade interna e externa.

O que mudou na sua vida?

É muito profunda a dor. Não quero comparar com outras, mas talvez a diferença neste caso seja que ela não é algo que apenas acontece. Ela vira parte de você.

Mas este não é um livro apenas sobre perdas e mortes, é também sobre a intensidade da vida.

Por que a ficção, e não o jornalismo?

Artigos e ensaios são mais objetivos, vão diretamente ao ponto. Mas o enfoque literário é mais profundo, não oferece respostas ou dicotomias fáceis.

O que o sr. pensa do Exército israelense?

Israel precisa de um Exército forte, pois esta é uma região violenta e imprevisível. Mas o Exército sozinho não resolve nada, a paz é o melhor caminho.

E como o sr. avalia a sociedade israelense?

Devido à tensão política, cada vez há menos humor em Israel. As pessoas acabam agindo de maneira extrema, com mais agressividade e menos senso de humor ou autoironia.

Não gosto disso. A autoironia sempre fez parte da cultura judaica.

E a religião?

Em termos culturais, eu sou muito judeu. Já tive a oportunidade de viver fora de Israel mais confortavelmente. Mas recusei, porque Israel é o lugar mais relevante para um judeu viver. É onde o antigo e o moderno convivem de maneira mais dramática.

O sr. é religioso?

Estudo a Bíblia semanalmente com três pessoas, em sessões de quatro horas, há 22 anos. Lemos como antigamente, com lupa. De quatro ou cinco semanas para cá, estamos estudando os três primeiros versos sobre a criação.

Mas o sr. acredita em Deus?

Não, ao mesmo tempo sou absolutamente secular. Sagrada para mim é a existência humana.

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