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Novo filme de Spike Lee estreia só em duas salas de NY

Financiado pelo diretor e filmado em 18 dias, "Red Hook Summer" rebate crise do cinema independente dos EUA

Longa foi rodado nos intervalos da produção do documentário de Lee sobre o disco "Bad", de Michael Jackson

RAUL JUSTE LORES
DE NOVA YORK

Spike Lee voltou à sua melhor forma, ainda que poucos americanos possam ver o resultado no cinema. "Red Hook Summer" estreou em Nova York em apenas duas salas do circuito alternativo.

O filme foi financiado pelo diretor e rodado em apenas 18 dias -nos intervalos da produção de seu documentário sobre o disco "Bad", de Michael Jackson (1958-2009). A distribuição também é artesanal, sem a mãozinha de nenhum estúdio.

"Red Hook" rebate com vitalidade a anemia financeira por qual passa o cinema independente americano. Lançado 23 anos depois de "Faça a Coisa Certa" (1989), talvez seja o melhor dos "filmes do Brooklyn" de Lee.

O cineasta, que volta a fazer uma ponta como o entregador de pizzas que aparecia no seu filme mais famoso, desta vez parece encarnar em um garoto de 13 anos, Flik Royale (Jules Brown).

Nascido em Atlanta (EUA), como Lee, Flik é enviado pela mãe para passar as férias de verão com o avô, o pastor evangélico Enoch Rouse, na região de Red Hook, no Brooklyn, em Nova York.

Vegetariano e ateu, o menino só tem fé mesmo no que grava em seu iPad 2. Ele retrata cada minuto vivido ali, sob a pressão constante do avô, que o leva a cada culto na igreja e tenta colocar Deus na vida do rapaz.

Ele, resistente, vai aos poucos descobrindo a comunidade de rappers e pequenos traficantes em meio à fauna que se reúne na igreja do avô. Especialmente, como em um conto sobre a puberdade, é atraído pela mandona e carismática Chazz (Toni Lysaith), filha de uma das seguidoras mais devotas do pastor.

No quase namorico da dupla, eles perambulam pelo conjunto habitacional de Red Hook, onde moram e retratam algumas mudanças fundamentais de Nova York nas duas últimas décadas.

Sai a violência explícita de "Faça a Coisa Certa", entra uma comunidade muito mais calma -e a Cohab local aparece em ótimo estado.

O único comentário sobre a gentrificação da área (a chegada de moradores mais abastados e o encarecimento do metro quadrado da região) ocorre quando os garotos teimam em rabiscar o cimento fresco da reforma do casarão de uma vizinha branca, que sempre os persegue aos gritos após a traquinagem.

Essa fábula, algo entre adolescente e cômica, é interrompida na segunda metade do filme por uma revelação do passado do pastor, vivido com garra e carisma hipnóticos pelo ator Clarke Peters (da série "The Wire", exibida nos EUA entre 2002 e 2008).

A surpresa revela crateras no roteiro, relacionadas à relação entre o avô e a mãe de Flik, mas elas passam longe de minar a graça e o encanto produzidos pelo filme de Lee.

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