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Francês traz seu 'teatro de câmara' a SP

François Kahn, que apresenta peça em centro de ioga, foi um dos pioneiros das encenações em casas privadas

Práticas do encenador têm como referência conceitos do polonês Jerzy Grotowski, com quem Kahn trabalhou

MARCIO AQUILES
DE SÃO PAULO

Em 1992, o ator e diretor francês François Kahn apresentava uma peça de Samuel Beckett (1906-1989) em um pequeno festival. Teve problemas autorais com o texto e o espetáculo foi cancelado.

Ficou irritado, decidiu juntar o essencial de suas coisas em uma maleta e percorrer a Itália encenando monólogos nas casas das pessoas.

"As regras eram simples: os donos das casas tinham que me hospedar por uma noite e convidar algumas pessoas, que davam pequenas contribuições para eu continuar viajando", conta Kahn.

Esse processo peculiar de composição dramática poderá ser visto pelo público neste domingo em uma casa paulistana -lá também funciona um centro de ioga-, onde Kahn encena "Moloc".

A peça aborda o julgamento, nos EUA, de que o poeta beat Allen Ginsberg (1926-1997) participou como testemunha, mas no qual acabou sendo depreciado moralmente pelo procurador.

"A peça mostra as quatro questões-chave deste diálogo. Ginsberg foi atacado pela sua religião hinduísta-budista, pelo seu consumo de LSD e maconha, pela sua homossexualidade e pela sua poesia", afirma Kahn.

O procurador inclusive o inquiriu a ler poemas de conteúdo homoerótico, na tentativa de desmoralizá-lo.

No monólogo, Kahn interpreta um narrador, que introduz a história, Ginsberg e o procurador do caso.

MESTRE POLONÊS

De 1975 a 1981, Kahn trabalhou com o consagrado encenador polonês Jerzy Grotowski (1933-1999) em seu Teatro Laboratório, o que influenciou fortemente suas concepções estéticas.

Neste período, Grotowski trabalhava com parateatro, linha de investigação teórica e pragmática que buscava transcender a dicotomia entre ator e espectador.

"Tudo o que eu faço aprendi com Grotowski. Naturalmente criei meus próprios caminhos depois, mas a essência vem dali", diz Kahn.

Esses anos de trabalho conjunto o levaram ao desenvolvimento dos elementos decisivos na criação de seu "teatro de câmara", que se molda no ambiente caseiro por meio de cenografia, iluminação e figurino simples.

"Eu tento eliminar tudo o que não é essencial para o espetáculo. O fato de o espectador estar próximo impede o ator de 'mentir' em cena, não se pode exagerar nada."

Recentemente alguns grupos brasileiros começaram a encenar peças nas casas das pessoas, a convite dos donos.

A prática, que Kahn adota há duas décadas, permite um foco grande no trabalho do ator. A performance centra-se na justa medida ente a corporalidade em cena com a entonação verbal. "Afinal, o teatro pode ser resumido a isso: corpo e voz", afirma Kahn em português fluente.

O diretor está no país a convite da SP Escola de Teatro, onde encena "Moloc" nas duas próximas segundas-feiras e onde também ministra aulas para jovens atores, muito possivelmente encantados com o espírito desbravador do professor.

MOLOC

QUANDO dom., às 18h, e dias 27/8 e 3/9, às 20h
ONDE Centro Iyengar Yoga São Paulo (r. São Gall, 488; tel. 0/xx/11/3862-0158) no domingo; e SP Escola de Teatro (pça. Roosevelt, 210; tel. 0/xx11/2292-7988), nos dias 27/8 e 3/9
QUANTO R$ 25 no Centro Iyengar, e grátis na SP Escola de Teatro
CLASSIFICAÇÃO 18 anos

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