Crítica Comédia

Longa propõe registro curioso de vítimas da adolescência eterna

Antes de engolir o último grão da pipoca, o público de "Rock of Ages: O Filme" começa a ter dúvidas se entrou num cinema ou num karaokê.

De vez em quando surge um diálogo para lembrar que estamos vendo um filme, mas o tempo quase todo assistimos a atores fazendo covers de músicas que tocam no rádio há mais de 30 anos, como um pesadelo em "looping".

Situado em um buraco negro no início dos anos 1980, "Rock of Ages" parece uma versão musical de "Parque dos Dinossauros" (1993), com as espécies ressuscitadas, a luta pela sobrevivência, as montanhas-russas de ação e o final apoteótico e feliz.

No palco de um clube noturno de Los Angeles (EUA), roqueiros veteranos e emergentes vivem sonhos e desilusões, ao modo de filmes hollywoodianos ruins.

A diferença é que em meio à trama idiota surgem espasmos de ironia e a história abre espaço para o comentário sobre a caricatura, o dramalhão vira sátira sobre a idolatria, e o rock, gênero jovem por essência, deixa expostos os limites do conceito de juventude.

O uso contraposto de Alec Baldwin e Tom Cruise, atores cujos primeiros sucessos datam da mesma época das canções da trilha, faz do filme um curioso registro do tempo que passa para uns, enquanto outros ficam mumificados na adolescência eterna.

Cruise assume, nunca se sabe se com ousadia ou ingenuidade, um tipo calcado em Axl Rose, com todos os tiques do ídolo cinquentão congelado longe da realidade. Em torno da figura de Stacee Jaxx, emergem as distorções típicas da cultura pop, que costuma gestar o "novo" a partir dos restos esquecidos ou desconhecidos do passado.

Pena que "Rock of Ages" nunca decida se reproduz a fórmula ou diverte o público, assumindo-se de vez como farsa.