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Mexicana estreia no romance com relato poderoso

Editada por grife das listas, Valeria Luiselli critica jovens autores contemporâneos por ânsia em participar de coletâneas

"Cidadã do mundo", escritora cria em "Rostos na Multidão" trama que se distancia da realidade mexicana

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

"Os jovens escritores hoje vivem obcecados com as listas. Criou-se uma fixação coletiva por estar em coletâneas, por pertencer a equipes selecionadas".

Assim define o meio literário atual a mexicana Valeria Luiselli, 31, que lança por aqui "Rostos na Multidão", seu primeiro romance, pela editora Alfaguara/Objetiva.

Elogiada pelo espanhol Enrique Vila-Matas, Luiselli tem seu trabalho editado no exterior pela Granta Books, justamente a responsável pela mais cobiçada das publicações de novos autores.

"Estar em uma lista não define nada, já há um tipo de 'livro de lista' que se sai bem nessas seleções, mas isso é limitador e deixa parte da boa produção atual de fora", diz.

"Rostos na Multidão" é inspirado em sua própria trajetória, apesar de ela negar que seja um texto de teor autobiográfico.

A protagonista é uma jovem escritora mexicana, casada e infeliz, que vive em Nova York e trabalha para uma editora dedicada a traduzir autores pouco consagrados.

Encarregada de encontrar um sucessor latino-americano para o chileno Roberto Bolaño (1953-2003), ela topa com a obra de um obscuro poeta mexicano, Gilberto Owen (1904-1952), que viveu na Nova York dos anos 20/30.

"A vida de um passa a espelhar a do outro, suas expectativas, o modo como veem o mundo." O ponto de encontro das duas trajetórias é o metrô da cidade.

"As vezes pego o metrô e imagino que conheço algumas figuras, é um lugar onde esse estranhamento e a proximidade das pessoas têm o poder de evocar memórias ou sugerir relações", diz.

LITERATURA URBANA

Luiselli passa metade do seu tempo ali, onde faz doutorado na Universidade Columbia, e metade no México, onde dá aulas de literatura criativa na Universidade do Claustro de Sor Juana. Nos EUA, também escreveu um libreto de balé para o New York City Ballet.

Nas entrevistas e resenhas publicadas em jornais estrangeiros sobre Luiselli é recorrente surgir certo espanto pelo fato de a escritora, apesar de ser mexicana, não tratar do problema do narcotráfico.

"Trata-se de um assunto muito midiático, um drama nacional muito forte, por isso há uma certa cobrança, mas não me vejo obrigada", explica a escritora.

A obra de Luiselli não dialoga diretamente com a tradição do realismo mágico latino-americano.

Nesse sentido, tem um vinculo mais direto com a chamada "geração do crack mexicano", que pregava uma literatura mais urbana e não necessariamente relacionada a uma realidade nacional.

Luiselli, apesar de mexicana, sente-se uma cidadã do mundo por ter vivido em vários países com os pais, e, depois, sozinha na Índia e nos Estados Unidos.

"Eu tentei viver apenas no México, mas nunca dava certo; parece que há algo que faz com que goste de me sentir estrangeira". E menciona obras de autores que também viveram por um tempo deslocados de seu lugar de origem, como Joseph Brodsky e Fernando Pessoa.

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