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Trilho sem fim

Inovador nos temas, na composição rítmica e no design, disco "Expresso 2222" ganha reedição

Folhapress
Gil em 1972,ano em que gravou o álbum
Gil em 1972,ano em que gravou o álbum

MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

Tudo o que Gilberto Gil faria pela música popular brasileira no decorrer das quatro décadas seguintes já estava apontado naquele disco.

Completando 40 anos, o álbum "Expresso 2222" ganha, nas próximas semanas, uma reedição especial, remasterizada nos estúdios ingleses de Abbey Road, e com o sofisticado projeto gráfico da capa original do LP transposto para o tamanho reduzido do CD.

(Uma versão em vinil também estava nos planos da Universal Music, que detém o catálogo da Philips -gravadora responsável pelo lançamento do LP em 1972. Mas, por ora, a ideia foi adiada.)

"Meus trabalhos futuros já estavam delineados ali, em uma série de procedimentos que depois foram se desdobrando em conjuntos criativos", diz Gil. "Elementos dos discos 'Refazenda' (1976) e 'Refavela' (1977), por exemplos, foram garimpados ali."

Que elementos são esses?

"A introdução da guitarra no samba e no baião em 'Chiclete com Banana', o início das canções filosofantes e introspectivas em 'Eu e Ele', o forró em 'Sai do Sereno'", diz.

CANÇÃO DO PÓS-EXÍLIO

Gil começou a gravar o "Expresso 2222" em abril de 1972 -três meses depois de chegar do exílio londrino, que durara dois anos e meio. As sessões aconteceram no estúdio Eldorado, no centro de São Paulo, sob a coordenação de Roberto Menescal.

Optaram por gravar ao vivo no estúdio (todos os músicos tocando juntos), o que agilizou bastante o processo. "Terminamos em uma semana", lembra Menescal. "O Eldorado deve ter sido cinema um dia e tinha um palco. Gravávamos em cima dele. Na época, os tropicalistas andavam em grupo. Então, os amigos sempre apareciam. Juntavam 15 pessoas na plateia."

Para o guitarrista Lanny Gordin, a velocidade das gravações se deveu aos muitos ensaios feitos na casa de Gil.

"Quando me reuni com o [pianista Antonio] Perna, o Bruce [Henry, baixista] e o Tutty [Moreno, baterista], parecia que a gente já se conhecia de outras encarnações. Falávamos pouco e nos comunicávamos pelo som", diz.

Lanny aponta uma revolução na maneira como Gil tocou violão naquele disco.

"Ele criou um novo estilo. Entrei na onda dele. Mudei meu jeito de tocar. Minha música, que era jazzística, ficou mais contemporânea", diz.

Tutty Moreno também vivia em Londres quando a maior parte dessas canções foi escrita.

Chegaram a morar na mesma casa: os dois, as respectivas mulheres de então (Ina e Sandra) e o pequeno Pedrinho -filho de Gil, que morreu em 1990, cuja foto estampa a capa de "Expresso 2222".

"Menescal, como produtor, respeitou integralmente as ideias do Gil, e o disco foi gravado sem nenhuma interferência", descreve o baterista.

Quase nenhuma. O espírito de liderança de Menescal teve de entrar em cena pelo menos uma vez.

É que, a exemplo de "Transa" (1972), de Caetano Veloso, a capa de "Expresso 2222" não seguiria os padrões "quadrados" dos discos comuns. Para tanto, foi encomendado a Edinizio Ribeiro Primo um projeto gráfico que também transformasse a embalagem do LP de Gil em obra de arte.

Primo fez um trabalho singular. Uma capa redonda, com diâmetro bem maior do que o do vinil que continha.

"Acabou 30% maior do que a dos discos convencionais", afirma Menescal. "Expliquei que não caberia nas caixas da transportadora nem nas prateleiras das lojas. Mas o cara não abria mão."

Teve que pedir que Gil interviesse. A solução conciliadora foi dobrar as bordas redondas para dentro da capa, fazendo-a parecer quadrada.

"Mesmo assim, custou tanto que deu prejuízo. Quanto mais vendesse, mais dinheiro a companhia perderia. Chegaram a torcer para vender pouco", conta Menescal.

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