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Novos cineastas buscam plateias globais

Geração que desponta agora se caracteriza por transitar entre gêneros e se desprender de temas sociais brasileiros

Reverência a nomes de fora é outro traço comum de movimento que tem Marcelo Galvão e Matheus Souza

RODRIGO SALEM
DE SÃO PAULO

Quarenta anos após o fim do Cinema Novo, uma nova safra de cineastas brasileiros está surgindo com a pretensão de romper com moldes e referências estabelecidas na filmografia nacional.

O slogan de "uma ideia na cabeça e uma câmera na mão" ainda vale, mas acrescido dos bytes da internet e da busca de alcance global.

"O cinema novo era formado por cineastas de classe média alta. Os novos diretores também são de classe média e possuem formação cinematográfica boa. Mas há um diferencial: a vontade de se relacionarem com o mundo fora das ideias pré-concebidas de Brasil", acredita Gustavo Galvão, 36.

O diretor deve lançar seu "Nove Crônicas para um Coração aos Berros" na Mostra Internacional de São Paulo.

Um traço comum desses cineastas é a falta de preconceito e o culto a filmografias estrangeiras.

"Qualquer menino hoje vê Apichatpong Weerasethakul de manhã, Tony Scott à tarde e Luc Besson à noite", lista Kleber Mendonça Filho, 44, autor de um dos longas brasileiros mais premiados do ano, "O Som ao Redor".

"Esses diretores são cinéfilos e têm acesso fácil a filmes. Eles agregam a história do cinema nacional a um longa independente americano", afirma William Hinestrosa, coordenador da seção Brasileiros do Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo.

Por causa dessa paixão cinéfila, os diretores deste "novo cinema novo" brasileiro se arriscam em vários gêneros.

A dupla Marco Dutra e Juliana Rojas transita no horror para levantar questões sociais. Marcelo Galvão dirigiu filmes de luta ("Rinha") e foi premiado em Gramado pela aventura "Colegas". Afonso Poyart concebeu cenas de ação tão marcantes em "2 Coelhos" que foi chamado para filmar em Hollywood o thriller "Solace".

CRÍTICA

Alguns críticos me acusam de ser menos brasileiro", reclama Matheus Souza, 24, que transformou seu "Apenas o Fim" em hit da geração internet e estreou "Eu Não Faço a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo Com a Minha Vida" no Festival de Gramado, novamente cheio de referências a HQs.

"Eu acredito que, para fazer um filme bom, você precisa escrever sobre o que conhece. Sou de classe média e não cresci com 'Macunaíma'. Falar do Brasil não é só falar sobre favela ou violência."

Kleber Mendonça Filho concorda: "A maioria dos cineastas do Recife morava em Boa Viagem e fazia filmes sobre artigos folclóricos ou sertão. Pensei que seria interessante fazer um filme sobre coisas mais próximas".

Segundo o cineasta, a primeira reação a seus trabalhos era negativa."Me perguntavam: 'Com uma cultura tão rica do Nordeste, por que fazer um projeto sobre uma rua ou um apartamento?' Mas era isso que eu queria."

Leia mais no suplemento do "The New York Times"

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