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Skate migra das ruas para galerias de SP

Trabalhos como o do fotógrafo Fabiano Rodrigues, que se autorretrata em manobras, ganham reconhecimento

Guilherme Peters é um dos artistas que usam aspectos físicos da atividade, como o som, em performances

Fabiano Rodrigues/Divulgação
Autorretrato premiado de Rodrigues; abaixo, na Oca do Ibirapuera, demonstração de como o artista registra seu trabalho
Autorretrato premiado de Rodrigues; abaixo, na Oca do Ibirapuera, demonstração de como o artista registra seu trabalho

DAIGO OLIVA
EDITOR-ASSISTENTE DE “FOTOGRAFIA”

Quando, em 1998, vestindo um uniforme similar ao de esgrima, Mark Gonzales driblou com seu skate obras de arte e obstáculos e pôs o público do museu alemão Abteiberg contra a parede, ele abriu caminho para que muitos skatistas se aventurassem pelo mundo artístico.

Num movimento semelhante, o fotógrafo Fabiano Rodrigues, 37, conquistou sua parcela desse mundo.

Em maio, um de seus autorretratos em preto e branco, em que faz uma manobra no centro de São Paulo, ganhou o prêmio Aquisição da feira SP-Arte. Avaliada em R$ 7.000, a imagem integra agora o acervo da Pinacoteca do Estado e está numa mostra que será aberta amanhã na Estação Pinacoteca.

"Foi uma surpresa. O diferente dessa foto é a ideia de performance. Mais que a manobra difícil, busco algo plástico graficamente", diz.

Rodrigues frisa que, mesmo se há muitos bons fotógrafos de skate, vistas como arte, e não impressas em revistas, as imagens ganham outra dimensão, muito maior.

O curador de fotografia da Pinacoteca, Diógenes Moura, 55, vai além. "Não é uma fotografia dura, mental. Além de ser um autorretrato, é também São Paulo. Ele tem o domínio da cidade", afirma. "Percorrendo o espaço com o skate, vê a cidade e a si mesmo. Tem um frescor imenso."

Frescor que reflete a trajetória do fotógrafo. Ex-skatista profissional, Rodrigues começou a fotografar para revistas e marcas de roupa em 2007. Mas foi só há dois anos que iniciou a série que lhe rendeu status de artista.

Em lugares como a Oca, no parque Ibirapuera, ou o Memorial da América Latina, definiu enquadramentos extremamente abertos e, com um controle remoto, registrou a si mesmo em composições que revelam linhas geométricas e sombras estudadas.

Em passagem por São Paulo no fim do ano passado, Marina Abramovic, referência mundial em arte performática, descobriu a galeria Logo, em Pinheiros (zona oeste) -e, segundo conta Lucas Pexão, 34, sócio do espaço, também o trabalho de Rodrigues.

Pexão conta que a artista sérvia queria ver novidades ligadas à performance e que "ela gostou do lado expressivo das fotos" de Rodrigues, "do contato com o mobiliário urbano e com a arquitetura".

Depois disso, Pexão passou a representar Rodrigues, até então sem galeria. O fotógrafo não esconde o espanto com a velocidade dos fatos.

"Fui abençoado pela Marina. Como não a encontrei, escrevi em sua página de fãs no Facebook: 'Obrigado por salvar a minha vida'."

DESGASTE DE ENERGIA

O que Abramovic talvez não saiba é que há mais brasileiros usando skate como arte. É o caso de Guilherme Peters, 25, skatista, surfista e artista da Galeria Vermelho.

Em seu trabalho, ele absorve a expressão corporal das práticas. "Criar forma requer um desgaste de energia", diz.

Suas performances não se limitam ao registro visual das manobras. Elas criam relações com fatos históricos e exploram aspectos como o som.

Na performance "Roll In", de 2010, ele fixou um microfone sem fio sob um skate e transmitiu, em altíssimo volume, o ruído das manobras que fazia na avenida Paulista para dentro do Itaú Cultural, criando uma interferência sonora na obra "Rhodislândia", de Hélio Oiticica.

"É como o desenho de observação. Andando de skate, você determina linhas, deixa marcas", diz Peters. "Superação física em relação ao espaço, energia, potência, violência: tudo isso está relacionado ao skate", afirma. "Mas andar de skate não me torna artista, é uma ferramenta de expressão artística."

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