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Cineasta virou ovelha negra em Hollywood

Schrader esnobou Scorsese e brigou com Steven Spielberg nos anos 1970

Na época de "Taxi Driver", ele dormia com uma arma na cama; reunião com Scorsese não é impossível

DE SÃO PAULO

No seu próximo filme, "The Canyons", Paul Schrader precisava orquestrar uma briga entre Lindsay Lohan e James Deen -um ator pornô profissional que integra o elenco- na qual ambos estariam nus.

Mas a sequência nunca verá a luz do dia. "Um ator certa vez me disse: 'Nunca tente interpretar quando há um pênis na tela'. Seria impossível filmar essa cena. Decidi vesti-los", revela o diretor.

Pensar neste tipo de concessão há 35 anos era impossível para Schrader. Quando escreveu "Taxi Driver", ele estava tão deprimido pela solidão em Los Angeles que dormia com um revólver carregado na cama.

"A ideia que havia uma arma embaixo do meu travesseiro me dava sono, pois sabia que podia acabar com a dor a qualquer momento", confessa o roteirista.

Schrader era tão radical que não atendeu aos apelos de Martin Scorsese, obcecado em dirigir o roteiro de "Taxi Driver". Ele cedeu quando Scorsese lhe mostrou "Caminhos Perigosos", em 1973.

"Eu tinha o desejo de abalar o mundo", diz ele, que ainda brigou com Steven Spielberg, outro membro da turma composta por George Lucas, Francis Ford Coppola e Brian De Palma.

Na época, Spielberg o contratou para escrever "Contatos Imediatos de Terceiro Grau" (1977). Mas Schrader não aceitava que os personagens fossem americanos comuns "comedores de McDonalds" e disse para o diretor procurar outro roteirista. Nunca mais conversaram.

"Nos encontramos há um ano em um evento. Ele foi amigável o suficiente", lembra, fazendo uma careta.

Essas histórias foi detalhada no livro "Como a Geração Sexo Drogas e Rock'n'roll salvou Hollywood", de Peter Biskind, o qual Schrader repudia. "Há várias mentiras ali sobre todo mundo."

"O problema é que ele tinha um objetivo: provar que nossa geração se vendeu. E eu não concordo." A teoria de Biskind pode ser discutida, mas não dá para negar que aquela geração hoje dita várias regras em Hollywood.

Quem não entrou no jogo foi deixado em segundo plano. "Nos anos 1980, os estúdios viram que não precisavam de artistas para fazer dinheiro", diz Schrader. "Meus filmes passaram dos US$ 10 milhões para os US$ 3 milhões e agora preciso produzir de forma independente."

Schrader virou a ovelha negra da turma.

Diz que De Palma, seu melhor amigo nos anos 1970, não retorna suas ligações, e que pensa numa reunião com Scorsese, com quem não trabalha desde "Vivendo no Limite", de 1999. "Seria bom para Hollywood, mas não vou ligar pedindo."

(RS)

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