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Livro nasceu de amizade com carcereiros

Drauzio Varella mantém até hoje reuniões com funcionários do antigo Carandiru, o Conselho dos Cachaceiros

Médico analisa figuras pitorescas, faz críticas à ex-gestão das prisões de SP e analisa ascensão de facção criminosa

DE SÃO PAULO

Drauzio Varella deve muito de "Carcereiros" ao Conselho dos Cachaceiros.

Paródia do Conselho Penitenciário, composto por autoridades do setor no Estado de SP, o grupo reúne o próprio Drauzio e amigos carcereiros que ele fez ao longo de 13 anos de trabalho na Casa de Detenção.

O hábito de se encontrarem a cada duas ou três semanas num bar para, como escreve Drauzio, "contar histórias de cadeia e dar risada", se manteve após a desativação do Carandiru, em 2002, e sobrevive até hoje.

Em entrevista anteontem, o médico contou que, após o estouro de "Estação Carandiru" -mais de 500 mil exemplares vendidos e adaptado ao cinema-, decidira não escrever mais sobre cadeia.

Mudou de ideia durante uma reunião do Conselho dos Cachaceiros. "Ouvi uma história sobre mulher, resolvi escrevê-la e tive prazer."

Percebeu também que não havia livros parecidos. "Tem livro de cadeia de tudo quanto é jeito, mas não conheço nenhum com essa perspectiva [dos carcereiros]."

É uma perspectiva complexa e interessante. Carcereiros lidam a todo instante com a morte e o risco, vivem em permanente estado de alerta. Interpretam pequenos gestos para desvendar fugas e planos de morte. Têm princípios morais retos, são honestos e respeitadores, mas de repente podem torturar um preso.

As figuras que emergem do livro são fascinantes. Como Irani, ex-chefe do pavilhão sete do Carandiru, "que tem mais histórias para contar do que duas manicures juntas", mestre na arte da negociação.

Mas, junto dos causos e do pitoresco, contados em sua prosa leve, Drauzio critica a reforma do sistema penitenciário feita na gestão de Nagashi Furukawa na Secretaria de Administração Penitenciária de SP de 1999 a 2006 -ele pediu demissão após os ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital) que pararam a capital naquele ano.

Drauzio relaciona a força conquistada pelo PCC nas cadeias do Estado ao massacre do Carandiru, em 1992, e mostra que o poder da facção é bom para os presos (há menos tortura, não há crack) e ruim para os carcereiros. (FV)

CARCEREIROS
AUTOR Drauzio Varella
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 33 (232 págs.)
LANÇAMENTO 18/10, Livraria Cultura (av. Paulista, 2073, tel. 0/xx/11/3170-4033), com o documentário "Deus e o Diabo em Cima da Muralha", de Tocha Alves e Daniel Lieff, sobre o Carandiru

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