Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Quebra-cabeça cinéfilo

Quem quiser ver os grandes filmes do ano terá de pegar a ponte aérea entre Festival do Rio e Mostra de SP

RODRIGO SALEM
DE SÃO PAULO

A rivalidade entre Rio e São Paulo é uma daquelas bobagens que muita gente adora incentivar.

Uma tem praia, outra possui bons restaurantes. A primeira tem motoristas malucos, a segunda tem um trânsito maluco. E por aí vai.

No cinema, a rixa ficou mais acirrada com a ascensão do Festival do Rio, que começa hoje com a exibição para convidados do esperado "Gonzaga - De Pai Para Filho", de Breno Silveira, no Odeon Petrobras, e termina no dia 11/10, uma semana antes da Mostra de São Paulo.

Se antes o cinéfilo ficava perdido só com a mostra paulistana, agora ele terá de quebrar a cabeça (e viajar) se quiser acompanhar os longas mais premiados do ano.

"Pietá", o filme sul-coreano o vencedor do Leão de Ouro de Veneza, passa no Rio. Mas, se você quiser ver o ganhador de melhor roteiro, precisará se deslocar para São Paulo atrás de "Après Mai", de Olivier Assayas.

O Festival do Rio, antes realizado apenas em setembro, foi aproximando-se cada vez mais da Mostra de São Paulo -ano passado chegou ao cúmulo de haver um intervalo de apenas três dias entre os dois eventos cinéfilos.

"Isso foi por acaso. Precisávamos fugir do Rock In Rio. Então, começamos depois", explica Ilda Santiago, diretora executiva do Fest Rio. "Não acho ruim ficar próximo da Mostra. É um benefício ter cinéfilos dos dois lados."

Essa ousadia do evento do Rio teve uma consequência. No ano passado, ainda sob o comando de Leon Cakoff, morto em outubro de 2011, foi instituída uma nova regra: nenhum filme estrangeiro entraria na Mostra se não fosse inédito no país.

O recado, claro, foi para o Fest Rio, apesar de ninguém admitir. "Não me preocupo com o Festival do Rio. Há filmes para todo mundo, e a Mostra está muito forte", diz Renata Almeida, diretora da Mostra de São Paulo.

"Qualquer festival de prestígio no mundo tem essa regra do ineditismo. Não vamos fazer um festival de segunda categoria [aceitando filmes repetidos]. O nome da Mostra é muito conhecido e respeitado no exterior."

A regra, no entanto, não foi bem aceita entre alguns distribuidores. A Folha apurou que um estúdio preferiu levar todo o seu line-up independente para o Rio por não aceitar a imposição da Mostra.

A maioria prefere adaptar-se aos dois maiores festivais de cinema do país. A distribuidora Califórnia Filmes, por exemplo, dividiu seus oito títulos internacionais entre Rio e São Paulo.

"Separamos os títulos de acordo com o perfil e demanda de cada festival", diz Claiton Fernandes, vice-presidente da companhia.

"Recebemos pedidos nas redes sociais para que o filme 'Killer Joe' [que pode render uma indicação ao Oscar para Matthew McConaughey] fosse exibido no Rio. Em compensação, acompanhamos o sucesso de Marco Bellocchio em São Paulo e deveremos lançar seu novo longa ["A Bela Adormecida"] na Mostra."

"Vou exagerar para ilustrar melhor: o Rio é mais badalado, enquanto São Paulo é mais criterioso. E essa é a imagem que tem lá fora também", crê Jean Thomas Bernardini, diretor da Imovision.

Para não se indispor com os festivais, Thomas passou "Depois de Lúcia", vencedor da mostra Um Certo Olhar, em Cannes, para o Rio, e terá "No", ganhador da Quinzena dos Realizadores, abrindo a Mostra de São Paulo, com a presença do astro Gael García Bernal.

Até ele entrou numa sinuca de bico. "Amor", de Michael Haneke, o vencedor da Palma de Ouro em Cannes, não passará em nenhum festival.

"Seria muito duro para quem ficasse sem o filme, que deve ir ao Oscar", aposta Thomas. "E seria uma guerra enorme conseguir a cópia só para um festival. Se fossem os dois, eu teria ido atrás."

As escolhas das distribuidoras mostram que o perfil dos dois eventos tendem a ficar mais claros. O Rio, com mostras de terror, de musicais, de filmes de temática gay e produções hollywoodianas, terá rótulo mais popular, mesmo que tenha filmes difíceis como "Holy Motors", do francês Leo Carax, e "Post Tenebras Lux", do mexicano Carlos Reygadas.

"Tenho perfil popular, sim. Mas não significa que não somos abertos aos filmes mais cabeça. O desejo é ser capaz de conquistar o público mais aberto e trazê-lo para o cinema de arte sem abrir mão da qualidade", conta Santiago.

"A Mostra sempre teve um lado autoral. É nossa tradição. Se o blockbuster quer ir para o Rio, não vou chorar. Queremos lançar novos diretores", rebate Almeida, que terá pelo menos um grande filme de estúdio neste ano: a animação em stop-motion "Frankenweenie", do diretor Tim Burton.

-

LONGAS ESCOLHIDOS PARA A MOSTRA DE SP

"Frankenweenie"
Animação em stop-motion de Tim Burton

"Après Mai"
Vencedor de melhor roteiro em Veneza

"A Bela Adormecida"
Longa do italiano Marco Bellocchio

filmes em cartaz no FESTIVAL DO rio

"Pietà"
Ganhador do Leão de Ouro do Festival de Veneza

"Argo"
Filme dirigido e estrelado por Ben Affleck, destaque em Toronto

"Beasts of Southern Wild"
Drama norte-americano independente, sensação em Cannes e em Sundance

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.