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Coleção resgata o humor e a dramaticidade de Chaplin

Em 'O Garoto', que chega às bancas em 7/10, história de uma criança abandonada é mote para crônica social

DE SÃO PAULO

Em 1920, a vida de Charles Chaplin estava um caos. Aos 30 anos, enfrentava publicamente um processo de divórcio da atriz Mildred Harris, com quem havia se casado dois anos antes.

A união não suportou a perda de seu primeiro filho, Norman, morto com apenas três dias de vida. Os dramas pessoais complicavam uma fase decisiva em que o ator se estabelecia como grande nome do cinema mudo.

É sob essa atmosfera conturbada que Chaplin lança, em 1921, "O Garoto", longa-metragem em que o artista equilibra comédia e drama.

O filme é o quarto volume da Coleção Folha Charles Chaplin, que chega às bancas no próximo domingo, 7/10.

"Há muito tempo eu queria fazer um filme que, entre muitos incidentes cômicos ou burlescos, escondesse uma ironia capaz de despertar a compaixão", disse Chaplin.

A combinação de humor e sentimento, já evidente em muitos dos curtas anteriores de Chaplin, se tornou aqui a força motriz ao retratar o vagabundo que encontra uma criança abandonada (Jack Coogan) e a cria como filho.

O menino é deixado por sua mãe, vivida por Edna Purviance, parceira de Chaplin em inúmeros filmes.

A mãe, "cujo pecado foi a maternidade", como nos informa uma das legendas do filme, se separa da criança após uma série de contratempos, e é o vagabundo pobre quem encontra o bebê.

Apesar de ter nítidas influências teatrais, o filme encontra paralelo com romances clássicos escritos por Charles Dickens, como "Oliver Twist" e "David Copperfield".

Dickens, que era inglês como Chaplin, contou histórias de abandono protagonizadas por crianças, reféns das injustiças de seu tempo. Nas obras de ambos, apesar da realidade sombria, os protagonistas mantêm a esperança em um futuro melhor.

"Carlitos fez do pranto uma causa, fonte isolada sem relações com o tema que o produz", analisou o poeta espanhol Federico García Lorca.

A vida do menino fez Chaplin recordar sua própria infância, dividida entre cortiços miseráveis de Londres.

HISTÓRIA DE CRIANÇA

Jackie Coogan, o menino que encantou o mundo, foi descoberto por Chaplin em um espetáculo de vaudeville -teatro de variedades popular entre o fim do século 19 e o início do século 20- apresentado em Los Angeles.

O garoto conseguia ser doce, travesso e convincente nas cenas mais dramáticas e se tornou um dos grandes astros infantis da época.

Estima-se que Coogan tenha ganho de três a quatro milhões de dólares no início da carreira. Legalmente, porém, o salário do artista deveria ser administrado pelos pais durante sua menoridade.

Em 1938, Coogan processou a mãe e o padrasto por dilapidarem sua fortuna, mas recuperou apenas 30% de seu patrimônio.

A batalha legal resultou em novas condições de trabalho para atores-mirins, e a Califórnia aprovou uma lei, batizada de "Lei Coogan", que determinava que ao menos 15% dos ganhos da criança fossem resguardados e assegurava questões como escolaridade e jornada de trabalho.

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